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Problemas

Todos nós temos problemas, e os meus, começaram cedo.

Não bastasse meus irmãos pegando meus brinquedos e minha mãe me obrigando a comer verdura, chegava na escola e a professora ditava: “ PROBLEMA”. X e Y para decifrar, equacionar e resolver.

 

“ No fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria que nossos problemas fossem resolvidos por decreto” disse Leminsky.

 

Só que não é assim. O X e Y, nunca mais saem da nossa vida, só varia o contexto, e surgem outros caras também em questões mais complexas: Tipo o Z, o W, a tangente, a raiz quadrada…

 

Noel Rosa disse: “ Já fui convidado para ser artista do nosso cinema, ser artista é bem fácil, sair do Estácio é o que é o X do problema.

 

O “ X”. Sempre ele.

 

Os problemas são sempre diversos, e variam de pessoas para pessoa.

Problema de alguns é emagrecer, de outros é engordar.

 

Para o adolescente, o problema são os pais, “ eles não me compreendem”, é o problema dos pais, é o adolescente. (Haja paciência)

 

Ser filho único é um problema, mas ter irmãos muitas vezes também é.

Uns tem problemas por ter muito dinheiro, ou autoconfiança, ou empatia, e outros tem problemas justamente pela falta de algum destes intens.

 

E um problema puxa o outro; e citando novamente Leminky: “ Problemas não se resolvem, problemas tem família grande, e aos domingos, saem todos para passear: sua senhora e seus probleminhas. ”

 

 

A verdade é que os problemas sempre vão existir e temos que enfrentá-los. Como bem disse Lennon: “ Não foque nos problemas, foque nas soluções. ”

Conheci um engenheiro que quando chegava na obra, e o encarregado dizia: “ Doutor estamos com um problema” e ele respondia: No dia que não tivermos problemas, você como encarregado e eu como engenheiro, perdemos o emprego.

 

Achar soluções, ponderar e seguir em frente, sabendo que é sempre uma tentativa e que no meio do caminho, novos problemas podem surgir, e exigir novas soluções.

 

Felizmente, alguns (poucos) problemas se resolvem sozinhos, com uma mãozinha do Universo e do tempo, que cura também alguns; e tem também aqueles que não tem solução, e por isso mesmo, já vem resolvidos. “ O que não tem remédio, remediado está, ” diz o dito popular.

 

Problemas também podem ser reais ou imaginários.

Conheci uma menina que chorava muito pela morte de seu gatinho. Quando perguntei sobre ele, me contou que ainda não tinha nem ganhado o gatinho, mas que sabia que o gatinho um dia ia morrer, então ela já estava se preparando. Sofria por um problema imaginário, uma projeção de um problema que talvez nem viesse a acontecer. Foi uma lição para mim.

 

Para os mais sábios como cabalistas, problemas são dádivas. São oportunidade que nos fazem desenvolver a inteligência, a colaboração, a força, a paciência, resiliência e tantas outras virtudes que não desenvolveríamos se estivesse sempre tudo cor de rosa.

 

Eu sou de natureza preocupada. Sempre perdi o sono por causa dos problemas que me parecem tragicamente gigantes a noite.

 

Uma fábula me ajudou a criar o hábito de tocar na árvore da minha caçada todo dia quando chego do trabalho, uma pitangueira. Deixo ali os meus problemas e somente os pegos de volta na manhã seguinte. Entro em casa leve. No dia seguinte, vou pegá-los e percebo que não eram assim tão grandes como eu pensava, e alguns outros, os imaginários, desapareceram.

 

Esse hiato é importante. Como disse Anderson o pensador, é preciso “esquecer os problemas do mundo e viajar para um lugar na minha mente, sem empecilhos de ser feliz. ”

 

Eu tento. Todo santo dia. Muitas vezes, na hora de dormir, os problemas dão as caras. Aí eu paro, respiro, e mando todo mundo de volta para árvore.

AMULETOS

Tenho um sapato que me dá sorte, toda vez que surge algum problema para resolver, vou a reunião com ele. Tem dado certo, não tem lógica, mas tem dado certo.

Racionalmente, acho que é uma bobagem. Mas continuo usando, o problema é que agora devido a tanto uso, como diriam meus netos, ele abriu o bico. Não sou de desistir, colei a sola, e pronto, não deu certo ele fica meio de lado. Mas jogar fora não vou. Mandar num sapateiro fera, quem sabe.

Vice-versa ao contrário. Tenho alguns que me dão azar. É só sair com eles que me dá algum problema. Não jogo fora, porque custaram caro. Mas acabo ficando com raiva. Ficam de lado num lugarzinho obscuro da sapateira.

É interessante isso que acontece comigo e com muitas pessoas. Elas se apegam a um objeto mágico que para se sentirem protegidas. Uma bolsa, um lenço de pescoço, um colar ou uma pulseira, chaveiro então …

Nada como a Vivi que quando conheceu o Carlos, estava com um anel de pedra amarela no dedinho.

Enquanto durou o namoro ela não tirou mais. Um dia ela descobriu que estava sendo enganada pelo cafajeste do Carlos. Tirou o anel e o espatifou na parede.

Mesmo depois quando eles voltaram e ela quiz colar o anel quebrado, não deu mais certo. Coisa colada, já viu dá azar.

No Futebol, nem se fala. Tenho um amigo que só assistia aos jogos da Seleção Brasileira, vestido com a camisa 10 do Pelé. Pois bem, na véspera do jogo do Brasil X Alemanha, não achou sua camisa de jeito nenhum. Resultado: 7×1 para Alemanha. Até hoje ele põe a culpa na mulher.

Eu tenho um neto que tem duas camisas do seu time de coração. Uma é oficial e a outra fria.  Em todos os jogos ele veste a camisa. Quando perde ele diz que usou a camisa fria. E se vangloria: “ nunca vi meu time perder quando uso a camisa oficial. “

 

 

Rio

Não adianta dar nome a um rio, porque depois de alguns segundos ele não é mais o mesmo.

O grande compositor Paulinho da Viola ao ver sua escola de samba Portela desfilar na avenida, com fantasias azul e banco, compôs a inesquecível canção: “ Foi um rio que passou que passou em minha vida e o meu coração se deixou levar.

Leio no “ mulheres reciclando a alma”.  “ Deixo o rio correr, tudo vem ao seu tempo”.

Uma das mais incríveis lembranças que eu tenho na vida, foi em Bonito em mato Grosso do Sul. Lá existe um passeio que você veste uma roupa de borracha e máscara, e mergulha num rio com forte correnteza. Como a água possui carbonato de cálcio, é super límpida, azul, transparente.  A correnteza vai te levando sem esforço e você vai vendo os peixinhos no fundo, e a vegetação sub- aquática. É uma visão incrível. Nunca pude esquecer.

Se perguntarem a qualquer carioca onde você mora. Ele responde: No Rio para ele não existe Rio de Janeiro. É só Rio e pronto.

Todos os Rios sofrem uma angústia tremenda: “ Mas para onde eu estou indo”. “ Sinto correr, correr, sem saber o final. Só quando desemboco no Mar é que descubro: Eu também sou Mar”.

Alguns Rios são orgulhosos e não gostam de se misturar quando encontram outros Rios. Só depois de uma longa caminhada é que começam a interagir.

Rio é Rio. Mas o que são as cachoeiras? É quando o Rio quer se mostrar, quer que todos olhem para ele e digam: “ OH! Que lindo”. É um momento de pura vaidade do Rio, é de extrema beleza para quem olha.

Os rios detestam as pontes: “ Porque todo mundo quer passar por cima de mim”?

E as passagens subterrâneas então nem se fale: “ não respeitam minha intimidade”.

Os Rios como humanos são diferentes entre si. Tem suas personalidades uns são engraçados, outros brincalhões, outros altivos e inalcançáveis.

Num declive tranquilo são bonzinhos e nos convidam para escorregar e rir.  Outros brincalhões com pequenas escadinhas de pedra fazendo ondinhas, fazem as águas cantarem.

Outros altivos, nos mantem à distância sem intimidades.

 

INVISÍVEL

                                    

Maria Luiza, chamada de Luizinha, era uma jovem alegre e falante. Compreensiva, piadista, sempre atualizada, adorava contar um caso. Psicóloga que era, ajudava à todas.

Primeiramente seus colegas de faculdade, depois mais tarde os pacientes.

Tinha uma penca deles. Todos a amavam, porque ela era muito carismática, além de uma ótima profissional. Sabia escutar cada um com seus problemas e sempre os escutava sem julga-los.

Casou-se, os filhos tinham veneração por ela, costumavam dizer para os amigos: “Minha mãe é o máximo! ”

Bem, depois de toda essa propaganda, os amigos de seus filhos passaram a gostar de estar com ela e ouvi-la.

Ouvir suas piadas, ou qualquer coisa que a Dr. Luizinha dissesse, os jovens achavam demais.

Todos foram crescendo e continuaram a frequentar sua casa. Casaram-se e tiveram filhos.

Os netos quando pequenos só queriam ficar com a vovó! Pois ela era paciente e brincalhona também.

Adolescentes pediam conselhos. Riam muito com ela.

Luizinha tinha muito orgulho disso.

Sentia-se útil, pois entre um papo e outro, ia colocando conceitos sábios.

De repente a Luizinha percebeu que já não era a principal peça do grupo e descobriu que todos nós descobriremos um dia: – idoso se torna transparente.

Quando jovens, somos cristais muito transparentes

Quando maduros, um espelho onde se percebe algumas vezes alguém se espelhando

Na velhice ninguém vê nada. Pois o cristal está opaco e não encanta mais.

Dona Luizinha, ficava triste de se sentir invisível. Não queria mais ir a lugar nenhum. Não sorria mais, sua risada alta, que era sua marca registrada, despareceu.

Mas logo chegou dia das mães e a família se reuniu no domingo, na casa do filho.

Dona Luizinha saiu carregada de flores, cartas, presentes, mimos, e abraços de amor…

Sua família estava toda lá: filhos, netos e bisnetos, que segundo ela, eram lindos, inteligentes, simpáticos e muito alegres.

Várias rodinhas se formaram naquela tarde, ela foi o centro de umas, e invisível em outras. Assim como todos os outros que ali estavam. “ É a vida, pensou ela. ”

Compreendeu que ela não era invisível para aqueles que realmente importavam a ela, e que era hora de voltar a sorrir e ser feliz.

Gente alegre, nunca será invisível, se tornará invisível, ou será invisível!

 

A COR VERMELHA

 

Tenho muito dó da cor vermelha. Ela não é feia nem nada, pelo contrário, é lindíssima.

A questão é que ela foi escolhida para representar a maioria das coisas chatas.

O sinal de PARE do farol por exemplo. É como se o amarelo fosse aquele amigo sacana que sai correndo e te larga lá, olhando a bola vermelha alaranjada, frustrado.

O vermelho também é a cor escolhida para representar as piores coisas da escola.

A caneta do professor que estampa aquele X na prova. Chega a esquentar o papel. E o que dizer das “notas vermelhas” no boletim? É o atestado de burrice.

O vermelho, coitado, também é usado quando a sua situação financeira está ferrada:

⁃ “Esse mês estou no vermelho. ”

E até no futebol, aquele cartão queimando o bolso do juiz e que vai ferrar a vida do jogador é, advinha? Sim, vermelho.

E no relógio do carro, a cor que aponta a falta de gasolina é o vermelho. Desagradável.

E a luz vermelha que aparece na hora de “nada a declarar na alfândega”? Ferrou.

Tem o vermelho da raiva, do ódio, da vergonha.

Uma das justificativas é que vermelho é uma cor forte, de aviso.

Mas porque não usar outras cores como aquela cor fosforescente dos aeroportos?

Seria muito bom para o vermelho dividir o fardo.

Porém tudo tem dois lados e essa vida é justa (até no mundo das cores).

E por isso, o vermelho tem uma missão importantíssima, que nenhuma outra cor tem: a de representar o AMOR!

CHEGA DE RODINHAS

Existem vários rituais de passagem na vida.

Aprender a andar de bicicleta quando criança é um deles.

Abandonar as rodinhas é o primeiro passo em direção à independência, e consequentemente à liberdade.

Tenho visto com tristeza um “personal biker ” uniformizado ensinando as crianças a pedalar no parque.

Fico triste pois a participação dos pais nessa tarefa é tão fundamental a ponto de impactar a vida de seu filho para sempre.

Gosto de observar pais incansáveis, empurrando a bike dezenas de vezes, embaixo do sol, com as costas envergadas, orientando pacientemente o pequeno e inseguro piloto.

E que alegria ver o filho vitorioso!

Nesse ritual os pais ensinam a principal lição para os desafios da vida: a superação do medo e a tenacidade!

⁃. Não desiste filho! Vamos tentar de novo!

Desse ritual nasce no coração da criança a alegria de sentir que seus pais desejam seu crescimento em direção a autonomia.

Desse ritual nasce a confiança de que seus pais estarão ao seu lado nos desafios do seu desenvolvimento.

Desse ritual nasce a cumplicidade de pais e filhos na hora da vitória.

Fico feliz de ver cenas como quando a criança se desvencilha dos pais e vai sozinha.

Felizes são os pais que saboreiam esse ritual de passagem dos seus filhos.

Enchem o coração da criança com a certeza de que a partir daquele momento, o mundo é dele.

COISAS

                                              

    Uma ocasião anunciei, meu carro para vender. Quando chegou um interessado, fui pegar a chave para mostrar e não achei de jeito nenhum. Procurei, procurei e nada. Me disse então o possível comprador, para não ficar nervoso, que é assim mesmo, as coisas gostam de se esconder.

Fiquei pensando nisso e achei que ele tinha toda razão. Meu celular vive se escondendo de mim. Gosta de me irritar. E os pés de meia? Vão para lavar juntos e voltam separadas. Mas aonde eles se escondem. Tenho mais de 10 meias sem par.

Depois eu observei que isso é uma coisa que acontece com todo mundo, fiquei mais calmo. Afinal não sou só eu.

Tive um amigo que achou uma solução genial: só comprar meias da mesma cor. Quando perde alguma nem repara.

Outra sina que eu tenho são as canetas, se juntar todas as que eu já perdi, vai precisar de uma caçamba para poder junta-las.

Agora com a pandemia, o problema são as máscaras.

As coisas gostam de se esconder. Ficam tirando um sarro em cima de nós.

Uma moça conhecida, por sinal muito bonita, desenvolveu a teoria do buraco negro. Diz ela que em todas as casas tem um buraco negro, invisível, mas ele está lá. Quando uma coisa caí no buraco negro, esquece.

E os buracos negros das diversas casas se interligam como uma grande galeria subterrânea. Aonde é a saída dessa galeria ninguém sabe.

Acho que ela tem razão.

Chaves, ferramentas, pecinhas minúsculas (perdi uma molinha que até hoje se esconde), casacos, chinelos, sapatos, (um pé ou os dois), e por aí vai.

Nosso consolo é que acontece com todo mundo. Quanto mais coisas você tem mais somem.

Acho que o comprador do meu automóvel tinha razão: as coisas são más e gostam de se esconder.

Quero fazer um capítulo à parte para os carregadores de celular. Não existe nada pior para se esconder que os carregadores, e o problema é que quase sempre alguém carrega o carregador. Aí sai aquela encrenca.

Alguém já propôs que nos amigos secretos de fim de ano se estabeleça que o presente tem que ser um carregador. Todo mundo vai gostar de ganhar um. E eu também.

O GATO LUKE, nosso MALUKE


 

Luke se tornou um gato grande, lindo, carinhoso e levado.

 

Quando ouvíamos algum barulho de coisas caindo ou quebrando já sabíamos que era ele: nosso MALUKE!

 

Ele se enfiava em qualquer lugar, curioso que era.

 

Um dia Luke escapou. Nossa casa não tem rota de fuga, foi uma bobeada no início da noite.

 

Ele, esperto, vendo essa chance aproveitou.

 

Pela manhã quando colocamos a ração no pratinho, ele que sempre vinha correndo, não apareceu.

 

  • Gente, cadê o Luke? Ele sumiu!

 

Quem tem gato que eles se escondem em lugares impossíveis.

 

Tenho uma amiga mística  jura que eles se escondem e sim vão dar um passeio em outras dimensões…

 

Mas em que dimensão estava meu gato?

 

E toca procurar embaixo da cama, sofás, armários, gavetas, jardim…Cadê o Luke Meu Deus?

 

Alarmada fui para rua perguntar se alguém o tinha visto.

 

E sim, para meu desespero, ele fora visto fugindo!

 

-Ele correu para direita em direção à Rua Comandante…disse o vigia da rua.

 

Só que tem um bichinho perdido sabe o desespero que é. Luke nunca tinha saído de casa.

 

Entrei em casa gritando;

 

-QUEM DEIXOU O LUKE ESCAPAR????

  

Mas isso é besteira, poderia ter acontecido com qualquer um. Chega de perder tempo, vamos agir!

 

Primeiro avisamos os vizinhos e os vigias das ruas.

 

Em seguida postei em todas as redes sociais e comecei a confeccionar panfletos para espalhar em lugares estratégicos.

 

Esse foi um dos momentos mais difíceis nesse processo. Eu mal conseguia escolher uma foto. Meu coração sangrava ao ao ver a carinha do Luke, aquela carinha amada.

 

Eu estava tão desesperada que não conseguia nem chorar.

 

Com ajuda de pessoas solidárias, colamos panfletos por todo bairro. Em cruzamentos, comércios, pontos de ônibus, lugares estratégicos.

 

Agora não tinha mais nada a fazer, era rezar e esperar.

 

Mas eu não conseguia, comecei a sair todas as noites chamando por ele. E fiz uma promessa de salvar vidas de cinco gatos se Luke aparecesse.

 

Foi quando recebi uma dica que mudou tudo: deixar sua caixa de areia do lado de fora da porta, na rua.

 

Dizem que os gatos podem sentir um cheiro a kilometros e achar o caminho de casa.

 

Assim o fiz e a partir desse momento, mistérios começaram a acontecer.

 

O GATO PRETO

 

Passando alguns dias, de madrugada ouvi um miado forte e insistente.

 

Me sobressaltei, achei que era o Luke.

 

Espiei da varanda; era um gato preto que miava olhando para porta.

 

Na madrugada seguinte, ele estava de volta.

 

Comecei a achar aquilo curioso. Ele deve ter sentido o cheiro da areia, pensei.

 

Uma tarde, ele apareceu na calçada. Via-se que era de rua, um gato diferente, todo preto com os olhos meio separados, uma mancha branca no meio da testa.

 

Ofereci a ele comida e água, mas ele só me olhava e miava.

 

Todas as tardes ele aparecia e as crianças da casa vizinha começaram a brincar com ele e queriam adotá-lo. Pediram minha ajuda para convencer a mãe que com muita má vontade topou, mas não queria ele dentro de casa.

 

As crianças fizeram então um cafofo junto com a caixa de luz, um lugarzinho protegido, mas acesso a rua, onde colocaram água e comida.

 

Dera-lhe o nome de MOONLIGTH.

O GATO AMARELO

 

Já passara uma semana desde o sumiço do LuKe. A angústia agora era algo sólido, palpável.

 

SOLIDARIEDADE, ALARMES FALSOS  E UMA VIDENTE

 

Fiquei surpresa com a quantidade de pessoas solidárias que apareceram nesse processo.

 

Desconhecidos me ligaram para dar apoio. Nas redes sociais me contavam casos com finais felizes, diziam que iria rezar para São Francisco.

 

Apareceram também inúmeros alarmes falsos: viram o Luke na rua de baixo, na rua de cima, numa mochila sendo levado por um homem, entrando num carro, preso no jardim de uma casa, num terreno baldio do outro lado da cidade.

 

Já cheguei a sair de casa muitas vezes no meio da noite atrás de pistas falsas.

 

Eu rezava para que, se tivesse pego ele, que fosse alguém que iria tratá-lo bem.

 

Dez dias e nada. Nenhuma pista sólida. As pessoas me aconselharam a desistir e me conformar.

 

Eu não conseguia me concentrar em nada e nem conseguia chorar. Chorar era admitir que algo de ruim tivesse acontecido.

 

Ofereci para os vigias de todas as ruas 500 reais de recompensa. Assim prestariam mais atenção, pois os gatos sai na rua à noite.

 

Me dava um alento ver o Moonligth deitadinho no cafofo com água. Esse pelo menos está feliz.

 

Um dia me liga uma mulher. Disse que era vidente e podia ajudar, Aquilo me deu esperança. Ela pediu uma foto dele e disse que passaria a noite em meditação e pela manhã teria uma resposta.

 

Onde quer que ele estivesse, eu iria buscá-lo, nem que fosse em outro país.

 

De manhã ela liga e diz com maior frieza do mundo:

 

  • Eu vi seu gato, ele não está mais aqui. Foi atropelado e morreu. Mas isso não é uma coisa ruim, agora ele está num lugar melhor.

 

Me tranquei no banheiro. Imaginei a carinha dele num corpinho machucado e sem vida.

 

Coloquei uma toalha no rosto e dessa vez chorei tudo, durante muito, muito tempo.

 

O GATO LUKE MALUKE

 

O tempo passou e eu estava cansada. 

 

Uma manhã toca a campainha, era o vigia:

 

-Vi seu gato correndo para dentro de um bueiro de esquina!

 

Creio que deve ter sido trigésimo alarme do “aparecimento” do Luke na rua.

 

-Ah, tá Seu Adenildo, legal, muito bom, obrigado, pode ser né, ok, já vou ver… que preguiça de outro alarme falso!

 

Sai para rua sem vontade. Ele apontou:  bem nesse bueiro.

 

Chamei seu nome como havia feito centenas de vezes, só que dessa vez sem vontade: LUKEEEEeee.

Nada de Luke, é óbvio.

 

Nisso passa Zeze, uma vizinha muito especial, que tem muitos bichos e uma sintonia incrível com eles.

 

Contei o que estava fazendo ali.

 

Ela me diz:

 

-Ele está aí dentro.

 

Não sabia por onde começar. Quem sabe o homem das das gatoeiras poderia me ajudar. De noite fui até a pracinha e lá estava ele, incansável na sua missão.

 

Contei sobre a minha promessa.

 

Ele me diz:

 

-Se a senhora estiver disposta, o gato amarelo que a senhora viu era uma prenha bem adiantada. Amamentou os filhotes um pouco e se mandou. Os filhotes estão aqui, se quizer pode dar lar temporário até achar adotantes.

 

Eram 5 bebês. Promessa cumprida. Peguei a caixa onde estavam e levei para casa.

 

Ao tirar a tampa, me comovi com aqueles bichinhos, miniaturas de gato indefesos, enroladinhos num montinho…

Fiz um um cafofinho quente e fui tirando um a um para ajeita-los.

 

Os dois amarelos eram mais gorduchos.

 

Mas o que aconteceu a seguir foi emocionante: ao tirar os três pretinhos da caixa não acreditei no que vi: olhinhos, pintinha branca no meio da testa: Mooonligt!

 

Não sei que mistério aconteceu nessa história> Moonglith salvou a vida do Luke e Luke salvou a vida de seus filhotes.

 

Uma história e tanto.

 

Na verdade, o Luke salvou a vida de mais gatos, pois tocou muito a situação da quantidade de gatos abandonados e me tornei uma protetora.

 

Hoje dou lar temporário para gatinhos de rua e mamães abandonadas, achando lares para eles depois de recuperados.

 

E isso me faz muito feliz.

 

Obrigada meu Luke Maluque!

 

GATINHO LUKE

 

Luke é meu terceiro gato. Foi adotado depois de uma gata MIUMIU morreu e a gatinha Pipoca ficou sozinha.

 

No Pet Shop estava acontecendo uma feirinha de adoção e havia ninhada adandonada no lixo que acabara de ser resgatada. Luke estava entre eles.

 

Confesso que de início não reparei naquele sialatinha de olhos azuis, estava a procura de uma gatinha branca pra fazer para com minha pretinha.

 

Mas não tinha nenhuma!

 

Continuei olhando, pesquisando.

 

Me chamou a atenção um gatinho de olhos azuis que mexia com seus companheiros, pulava, dava mordidinha, lambia, todo animado.

 

Abri a gaiola e peguei ele no colo. foi amor à primeira vista. Ele ronronava na minha mão esticava a patinha querendo brincar.

 

-Achei meu gato, vou querer ele!

 

Que decepção : ele já estava adotado.

 

  • Ah! não acredito…

 

Resolvi sair de lá e tomar um café, estava frustrada.

 

  • Poxa porque eles deixaram um gatinho que foi adotado lá em exposição? E nem avisaram? Muito chato isso!

 

Voltei lá para agradecer e desejar boa sorte, tinha perdido o pique.

 

Quando cheguei, ela veio toda feliz:

 

  • Desistiram da adoção, o gatinho é seu!

 

Foi assim que Luke entrou nas nossas vidas. Sorte nossa!

 

Levamos aquele bebe para casa sem saber que ele salvaria a vida de muitos outros filhotes naquela mesma situação em que fora encontrado: descartado.

 

   

 

   

 

  

 

   

 

   

 

    

   

 

JORNAL

   Que maravilha, jornal chegando de madrugada em sua casa. Bem dobradinho, com todas as notícias de ontem, as previsões para hoje, notícias políticas, econômicas, horóscopo, previsão do tempo, resultados dos esportes. O que vai rolar hoje, anúncios  os mais variados, ofertas incríveis dos supermercados, autos, casas, apartamentos, sem falar do editorial e dos articulistas, que é uma delícia  ler, concordar ou não.

 

   Na hora do almoço, já perdeu um pouco da graça, na internet e na TV já saíram todas as notícias, inclusive algumas novas, a previsão do tempo furou e o horóscopo também.

 

   A noite na hora de dormir, virou sucata. Pode ser colocado no chão para o cachorrinho fazer xixi ou embrulhar o mamão para amadurecer. Senão vai para pilha dos jornais antigos.

 

   Lá pode amarelar a espera de ser vendido como sucata.

 

   O triste é guardar sem ter sido aberto, quanta coisa boa se perdeu. Quantos comentários deixaram de ser lidos. E as ofertas? Quanto dinheiro se perdeu.

 

   Mas o Jornal velho pode voltar a ter seus momentos de glória. Quando são usados como colagem em alguma obra de arte, ou quando usado em papel machê virando uma máscara ou um pássaro.

 

   Alguém já profetizou o fim dos jornais, superados pelos outros meios de comunicação. Mas ainda nada supera o prazer de você ter um jornal na mão e poder lê-lo do jeito que você quiser.

 

    Os jornais jamais vão desaparecer.

 

   Ainda bem, porque o jornal fresquinho que chega na nossa porta , nos lembra  que todo dia podemos  recomeçar, escrever nossas próprias histórias e notícias como escolhemos, e que este dia , esta data de hoje, nunca mais existirá. Mas as lembranças das coisas que valeram a pena, essas, como os jornais que viram pássaros de papel machê, se eternizarão em nossas vidas.

  

TREM DAS ONZE

    Quem não conhece esse samba maravilhoso do genial Adoniram Barbosa?

 

    Mas o que eu quero chamar atenção é para a frase: “ E Além disso mulher, tem outra coisa, minha mãe não dorme enquanto eu não chegar.”

 

   Já pensou na profundidade dessa colocação ? Quem tem filho ou filha jovem que sai à noite para as festas ou baladas, sabe bem o que é isso.

 

   Você pode até ir dormir, mas não é um sono tranquilo. Você acorda à qualquer ruído e  só sossega quando eles dizem : “ Cheguei. “

 

   Eu sou de uma geração que o pai ou mãe acordavam, punham um roupão por cima do pijama e saiam de carro de madrugada para buscar o filho.

 

   E pior é que naquela época não existia ainda o celular, você ficava sem notícias.

 

   Ainda bem que com celular melhorou muito, isso quando eles não desligam, ou falam que acabou a bateria.

 

   Às vezes você chegava no lugar da festa, mandava alguém procurar seu filho e ficava aguardando até que aparecesse. Às vezes demorava um tempão e você morrendo de sono.

 

   Mas a vida é sempre igual e se repete. Depois que eles casam, têm filhos que ficam jovens é a vez deles colocarem o roupão de madrugada.

 

   Às vezes os pais se organizam, um pai vai levar e outro vai buscar. Melhora um pouco, mas a aflição de quem fica esperando eles chegarem é a mesma coisa.

 

   Hoje existem os aplicativos que diminuíram muito esse problema. Mas a ansiedade até eles chegarem é a mesma.

 

   Daí dá para entenderem o Adoniram Barbosa : “ Não posso ficar nem mais um minuto com você ( namorada) minha mãe não dorme enquanto eu não chegar….

 

O RONCO

 

Se perguntarem para 1000 mulheres. E seu marido ronca, 999 irá responder que sim.

E uma irá dizer que está solteira, mas quando estava casada seu marido roncava.

 

Se perguntarmos “e a senhora ronca”? Só 20% irá reconhecer que sim.

 

Conheço maridos que para provar que a mulher roncava, gravaram durante a noite. Não adiantou, no dia seguinte elas não reconheceram a gravação como verdadeira, e continuaram afirmando que não roncavam.

 

Existem diversos tipos de ronco:

O tipo serra elétrica, os tipos britadeiras, existe o ronco que vai até um ponto e volta de jeito diferente, o ronco pipocado, ronco de porco, tipo assovio, tipo interrompido, que pára no meio, a mulher pensa que morreu, mas depois volta.

 

O que o parceiro ou parceira pode fazer? Tem mulher que coloca tampão tipo silicone nos ouvidos, dizem que melhora.

 

Outras tampam os ouvidos com travesseiro, existe aquelas que vão dormir na sala, outra tática é dar uma cotovelada no marido.

 

Teve marido, em prédio de apartamentos que acordava as vizinhas.  Foi para a reunião de condomínio. Queriam que fechasse a janela. Propuseram pagar um ar condicionado e ele não aceitou. Tem o ronco salvador, é quando a mulher para de respirar, você fica assustado, morreu, de repente dá um ronco, que alívio, está viva.

 

Um velhote foi fazer uma pequena cirurgia no hospital. Sua mulher e sua filha foram acompanhar. Feita a cirurgia ele votou para o quarto ainda dormindo, roncou, roncou até que acordou. A filha perguntou a sua mãe: “ Como conseguiu suportar todos esses anos? Pois é, e ele ainda reclama que eu gasto muito no cartão de crédito. ”

Existe os aproveitadores e tentam vender tudo quanto é tipo de equipamentos para solução. Tem um negócio que põe no meio dos dentes. Um cara até engoliu, e morreu. Deu certo parou de roncar.

 

Quem vai morar junto se prepare…

 

Bom sono a todos.

 

 

 

Falta de sorte

 

Não gosto dessa palavra, mas não tem outra para usar nessa situação. Tive azar. Na garagem do meu prédio, entre tantos vizinhos simpáticos e agradáveis, minhas vagas são ao lado do casal mais esquisito não apenas do prédio, mas de todo o bairro, provavelmente de toda a cidade. Um de cada lado. Fui premiada.

Não cumprimentam ninguém. Nem eles, nem seus dois filhos adolescentes, que tudo indica estarem crescendo esquisitinhos como os pais. Uma vez encontrei toda a família voltando da missa, os quatro andando juntos numa rua perto de casa. Quis ser amigável, afinal vi aquelas pessoas saindo da igreja, presumidamente imantados de bondade e de amor ao próximo. Acreditei que mereciam essa chance de redenção depois de tantos silêncios embaraçosos na garagem. Longe do território onde somos inimigos achei que a civilidade iria prevalecer. “Boa tarde!”. Ainda esbocei um sorriso. Não houve resposta.

Ao longo dos anos foram inúmeros embates. Era rotineiro o casal me mandar cartas com cópia para o síndico do prédio, sempre me culpando por todos os problemas que seus carros apresentavam. Como eu era amiga do síndico, ele provavelmente rasgava as tais cartas, pois nunca recebi qualquer multa ou advertência.

Um dia recebi um orçamento de uma funilaria, para o conserto de um grande furo na lateral de um dos carros deles. Era um valor alto. Junto, mais uma carta que me acusava de ter provocado o tal furo. Dessa vez tive muito trabalho, preparando uma defesa baseada em fotos do furo, medido com uma trena, para provar que pela altura era impossível a minha porta ter causado aquele dano. O zelador segurou a trena para eu tirar a foto. Seu sapato inadvertidamente apareceu na foto e foi reconhecido, o que lhe valeu uma reprimenda do casal por ter me ajudado.

Coitado do síndico, dessa vez fui eu que levei a carta. Quando a vizinha foi reclamar, ele perdeu a paciência. “Porque a senhora não coloca um belo colchão para proteger o seu carro?” Era uma ironia, mas ela levou a sério. Meu calvário começava aí.

O casal comprou boias, dessas bem largas, usadas para atracar lanchas, para evitar que batam no píer. É importante dizer que meu prédio é antigo, as vagas demarcadas na garagem foram projetadas para carros pequenos. Os carros aumentaram consideravelmente de tamanho, as vagas não. O casal instalou duas boias em cada carro e a partir deste dia apenas consigo sair do meu carro de lado e prendendo a respiração, pois a minha porta quase não tem espaço para abrir.

Vivi conformada por muito tempo, até que um amigo foi me visitar e me incitou. Disse que eu não poderia concordar com aquilo, que era um absurdo, pois se todos no prédio colocassem boias ninguém conseguiria sair dos carros. Que meus direitos estavam sendo violados. Que era assim que as guerras começavam: tinha gente que só pegando numa arma para resolver a situação.

Não quis chegar a tanto, mas armei um plano. Ao lado da vaga da mulher tem uma parede. Voltei mais cedo para casa para chegar antes que ela na garagem. Coloquei meu carro estritamente dentro da minha vaga, porém bem rente à faixa, pois sabia que daquele jeito ela não teria como estacionar. Não haveria espaço suficiente para manobrar. Subi e fiquei (alegremente, confesso) esperando o interfone tocar.

Depois de alguns minutos, o porteiro me ligou a pedido da vizinha. Pedi que lhe mandasse um recado: eu estava dentro da minha vaga e nem que Jesus descesse na terra para me pedir, eu não mudaria o meu carro de lugar. Se ela chamasse a polícia, eles nada poderiam fazer. E dei a minha cartada final: disse que meu carro não sairia daquela posição até que se comprometessem a não usar mais as boias.

Deu certo. Por uma semana, entrei e sai normalmente do meu carro, sem nenhum sofrimento. Depois as boias voltaram. Não, eu não quero viver em guerra. Eu prefiro me apertar.

Vendo pelo lado bom: eu nunca mais posso nem pensar em deixar de fazer regime.

Caminho mais fácil

 

Nem sempre foi assim. Hoje vejo a vida meio poeticamente e acabei me tornando uma pessoa bastante indulgente, tanto com os outros como comigo mesma.

Minhas amigas dizem que uso permanentemente óculos de lentes cor de rosa, que me fazem enxergar a realidade mais agradável e as pessoas melhores do que realmente são.

Se enganam.  Na verdade, minha paciência (ou resignação) existencial é na verdade uma grande preguiça, que se recusa propositalmente a focar nas mazelas da vida.  É uma questão de escolha. Se indignar cansa demais. Não quero perder energia assim.

Aceitar a mão pesada do destino é mais fácil e muito mais leve.

Como é confortável acreditar numa esperança longínqua que um dia ainda poderá acontecer -como um passe de mágica- uma resolução natural para todos os males! Sigo confiante. E por decisão, alegre.

Às vezes, mediante a minha postura, perdem a paciência. ” Tire esses óculos Silvia!!”. Me recuso. Eu gosto de ser como sou. Eu sou preguiçosa.

Brincando de Deus

 

Sempre gostei de ajudar minhas amigas. Digo ajudar romanticamente. É muito divertido juntar casais, dá um certo poder se sentir intercalando vidas, decidindo destinos. É como escrever um roteiro, e depois observar de longe o desenrolar da história que se desenvolve sozinha. O fim fica em aberto, com mil possibilidades de desfecho. Tem coisa melhor?

Confesso que as vezes passei dos limites, manipulando situações, criando estratégias como se o amor fosse apenas um jogo, e eu, uma treinadora minuciosa, que estuda e arma a sedução certeira para a vítima em questão. O pior é que geralmente dava certo.

Certa vez, fui na casa de uma amiga e conheci o seu irmão. Era um sujeito interessante, que descobri estar disponível. Já fui logo pensando nas solteiras que eu conhecia e que seriam compatíveis. Fiz da sua irmã uma aliada. Como não gostava da ex-namorada dele, logo se prontificou a me ajudar a providenciar uma nova cunhada mais aprazível.

Escolhemos a pretendente pelo aspecto físico. Não tínhamos muita opção, dado que o rapaz era muito exigente. Ele sempre se interessava pelo mesmo biotipo. Tinha que ser alta, morena, magra, e o que era mais difícil, cabelos longos e lisos (naquela época não existia escova progressiva). Por eliminação chegamos na Fernanda. Ele era Fernando, o que interpretamos com um sinal, um bom agouro, afinal coincidências não existem.

Descobrir o máximo possível sobre a vítima é sempre fundamental. Assim a irmã me passou um verdadeiro dossiê sobre ele, seus gostos e preferências em todos os aspectos da vida. Tudo o que mais prezava e tudo o que não suportava.

Instruímos muito bem a Fernanda. O rapaz adorava natureza, férias para ele era sempre no campo. Cresceu na fazenda da família e nunca gostou de praia. Não gostava de assistir TV mas era um cinéfilo inveterado.  Conhecia todos os cinemas da cidade e quando viajava, não ia a museus, ia assistir filmes estrangeiros que nunca chegariam no Brasil. Era ateu e zombava da ideia de um Deus que a todos julgava e que lhe parecia severo demais. Acordava cedo para correr, atividade que era a sua verdadeira religião.

Armamos um encontro na casa da minha amiga. Fingimos ser íntimas, três amigas de longa data. Ele sem saber de nada, naturalmente. Durante o jantar, lançávamos a perguntas certas, dando as “deixas” para a Fernanda poder discorrer sobre seus gostos, que na verdade eram opostos aos dele. Adorava praia e não perdia um só dia a sua novela. Tinha alergia à insetos e pavor de cavalo. Ia a missa quase todas as semanas com a sua avó. Rezava toda noite, tinha um time completo de santinhos na cabeceira da sua cama. Fazia balé, mas faltava bastante, era preguiçosa. Adorava acordar tarde nos finais de semana.

No decorrer do jantar me surpreendi com a performance da Fernanda, digna de uma verdadeira atriz. Era nítido que rapaz foi ficando intrigado (e encantado), afinal a amiga da sua irmã era a materialização perfeita dos seus sonhos. Ela nos contou como amava cachoeiras, que ficar no meio do mato era seu maior prazer. Que isto para ela era o verdadeiro céu, já que não acreditava que haveria vida após a morte. Céu, se houvesse, seria uma floresta com cheiro de terra molhada (desse cheiro ela realmente gostava).

O ápice do nosso roteiro foi depois da sobremesa. Conforme combinado, chamamos:                   “ Fernanda, está quase na hora da novela, vamos ver?”. E ela, deu o último tiro, certeiro: “ Esqueceram que detesto assistir TV? Que tal irmos a um cinema?”. Declinamos. Ele rapidamente a convidou, já praticamente apaixonado.

Namoraram por quase um ano. Terminaram antes das férias.

Não foram infelizes para sempre.

QUE BOM!

Não tenho a pretensão de dizer que sei tocar violão. Na minha juventude aprendi algumas posições, sem partitura sem nada, e com elas quando me encanto, tenho acompanhado alguém, cantando vez por outra.

 

Um dia cheguei para minha filha que também gosta de violão e disse à ela: “ compus uma canção, vou lhe mostrar”.

 

Cantei a música. No final ela disse:  “Aí que bonito. “ Só tem um problema,  esta música é do Dorival Caymme, esse grande cantor e compositor brasileiro.

 

Não acreditei. Ela então baixou um aplicativo no celular e colocou a música que eu acabara de “compor”…

 

Certamente ouvi esta música tempos atrás.  Ficou no meu subconsciente. De repente este liberou a informação, e a música aflorou no meu cérebro, como se fosse minha.

 

Estou contanto esta história, pois outro dia, sonhei que estava num botequim e nada de mais nada menos que o grande compositor Chico Buarque de Holanda, cantava, tocando o seu violão “ Não se afobe não, que nada é pra já. Amor não tem pressa, ele pode esperar”. Eu não podia vê-lo, só o escutava cantar:

 

“ E quem sabe então o Rio será alguma cidade submersa”. Puxa que lindo. Logo eu que sempre sonho que estou com algum problema para resolver… Dessa vez meu subconsciente deu uma colher de chá.

 

 

30X40

ANTES DOS 30, você quer conhecer gente  nova

DEPOIS DOS 40, você não quer ninguém na sua cola

 

ANTES DOS 30, você  luta para ser boa aluna

DEPOIS DOS 40,  prá desaparecer a dor na coluna

 

ANTES DOS 30, é grande a vaidade

DEPOIS DOS 40, os riscos de obesidade

 

ANTES DOS 30, você quer ser uma sereia

DEPOIS DOS 40, So não quer ser baleia

 

ANTES DOS 30  ,abusa da saúde

DEPOIS DOS 40 ,abusa do PLANO de saúde

 

ANTES DOS 30 , só usa 10% capacidade do seu cérebro

DEPOIS DOS 40 ,só usa 10% das funções  de seu celular

 

ANTES DOS 30 você não pensa nas consequências

DEPOIS DOS 40, você tem que arcar com elas

 

ANTES DOS 30 você sonha ter filhinhos para cuidar

DEPOIS DOS 40, sonha que os seus filhinhos saibam se cuidar sozinhos

 

ANTES DOS 30 ,quer viver a vida louca

DEPOIS DOS 40, so toma banho de touca

 

ANTES DOS 30, você toma sol sem chapeu

DEPOIS DOS 40, tem que usar base CHANEL

 

ANTES DOS 30, Sai com cara lavada , cabelos ao vento

DEPOIS DOS 40, paga caro o  preenchimento

 

ANTES DOS 30, você quer trocar o seu iphone

DEPOIS DOS 40,  tem que trocar o silicone

 

ANTES DOS 30, você quer uma boa balada

DEPOIS DOS 40, uma boa empregada

 

ANTES DOS 30, você tem anemia

DEPOIS DOS 40, comeca amnesia

 

ANTES DOS 30, você sai de cabelo molhado

DEPOIS DOS 40, de cabelo pintado

 

ANTES DOS 30,você se acha esperto

DEPOIS DOS 40, precisa de óculos prá perto

 

ANTES DOS 30, você briga com os irmãos

DEPOIS DOS 40, aparta a briga dos filhos

 

ANTES DOS 30,  você vai na festa do pijama

DEPOIS DOS 40, você  vai de pijama buscar os filhos de madrugada

 

ANTES DOS 30, você vive momentos cômicos

DEPOIS DOS 40, Precisa dos filhos para mexer nos eletrônicos

 

ANTES DOS 30, adora musica nova

DEPOIS DOS 40, aceita que ama bossa nova

 

ANTES DOS 30, acorda cedo e dorme de madrugada

DEPOIS DOS 40, Se não dorme 8hs, ishi, tá ferrada!

 

ANTES DOS 30, você tem mascara e  pé de pato

DEPOIS DOS 40 , você usa máscara para os pés de galinha

 

ANTES DOS 30, você so quer viver o agora

DEPOIS DOS 40 , fica revoltada quando  te chamam de ~senhora~

 

ANTES DOS 30, você vai na aula de boxe

DEPOIS DOS 40 , Precisa mesmo de botox

 

ANTES DOS 30 Quer resultados na ACADEMIA

DEPOIS DOS 40 , Evoluiu  NA TERAPIA

 

ANTES DOS 30 você quer ser igual as outras

DEPOIS DOS 40 você sabe ser diferente

 

ANTES DOS 30 TEM OPINIAO SOBRE TUDO

DEPOIS DOS 40 , NÃO TEM CERTEZA DE NADA

 

ANTES DOS 30 NÃO TEM PAZ NEM PACIENCIA

DEPOIS DOS 40 , BUSCA ESTAR EM  PAZ EM  SUA CONSCIENCIA

 

ANTES DOS 30, VIVE O FUTURO

DEPOIS DOS 40 , APRENDE A VIVER O PRESENTE

 

ANTES DOS 30 você pedia a Deus para tudo mudar

DEPOIS DOS 40 você agradece e pede a Deus, que nada mude

 

ANTES DOS 30 SONHA COM A NOVA TATUAGEM

DEPOIS DOS 40 , PRÓXIMA VIAGEM

 

ANTES DOS 30 CHEIA DE OPINIAO E PRECEITOS

DEPOIS DOS 40 , SE LIBERTA DOS PRECONCEITOS

 

ANTES DOS 30 DE MAL COM SEUS DEFEITINHOS

DEPOIS DOS 40 ,DE BEM COM SUAS QUALIDADES

 

ANTES DOS 30 Redes sociais

DEPOIS DOS 40 ,Amigos legais

 

ANTES DOS 30 SÓ PENSA EM VOCÊ

DEPOIS DOS 40 ,So pensa nos outros

 

ANTES DOS 30 você não se entende

DEPOIS DOS 40 você não se entende, mas já aceitou isso.

 

ANTES DOS 30, Tudo bem

DEPOIS DOS 40 , Tudo zen

 

ANTES DOS 30 QUER SER PRINCESA

DEPOIS DOS 40 , SABE QUE É  UMA DEUSA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alazão

Estes fatos aconteceram por volta de 1935 “ZI” Salvatore era um carroceiro e trabalhava na mansão dos Romanhollis.

 

A mansão ocupava um quarteirão inteiro da charmosa Av. Paulista.

 

Todos os dias, por volta das 4:00h da manhã ZI Salvatore pegava  a sua carroça puxado pelo burro que ele apelidou de Alazão, e ia da mansão dos Romanhollis até o Mercado Municipal (Mercadão) para compras verduras, as melhores frutas, e os mais fresquinhos frutos de mar, tudo de acordo com o pedido do cozinheiro chefe, e os trazia para a mansão.

 

Todos os dias era a mesma coisa, inclusive aos domingos. Era da mansão ao Mercadão, deste à mansão.

 

Isto se repetiu por longos anos, de tal forma que o Alazão só sabia seguir este trajeto, se alguém tentasse mudar de caminho ele se recusava e impacava, como se dizia naquela época.

 

Um dia, quando estava voltando para casa ZI Salvatore sentiu-se mal e desmaiou. Alazão o trouxe de volta para a mansão mesmo sem o condutor e assim ele pode ser socorrido.

 

ZI  Salvatore compreendendo o que se passava na cabeça do Alazão, adotava um esquema para fazer qualquer outro trajeto: amarrava uma venda nos olhos do Alazão e ele ia puxando a carroça a pé, segurando o Alazão pela boca.

 

O tempo foi passado até que ZI Salvatore resolveu se aposentar.

 

Com as economias de uma vida de trabalho, comprou um Sítio onde foi morar.

 

Pediu para os Romanhollis se ele poderia levar o Alazão consigo, nesta altura já bastante velho.

Os Romanhollis concordaram e lá se foram ZI Salvatore e o Alazão morar no Sítio.

 

Alazão pastava e ficava na porta da casa do Sítio, esperando um afago ou uma espiga de milho, dados por “ZI Salvatore”.

 

Eu me lembro que quando a professora passava uma matéria nova na escola, e se eu tivesse preguiça ou dificuldade de aprender, minha mãe dizia: “você esta parecendo o burro do ZI Salvatore não quer aprender nada de novo”

 

Acho que todos nós temos um pouco disso, se estamos na nossa zona de conforto, é difícil sair dela.

GUERRA AO 99

Outro dia fui ao supermercado. Um suco custava R$ 4,99. Então pensei só de chato vou comprar um e pagar com uma nota de R$ 5,00. Fiquei esperando o troco. Moeda de R$ 1 centavo não existe na praça. A caixa ficou me olhando e vendo que eu queria o troco, me deu uma moeda de 5 centavos. “ótimo ganhei  4 centavos”. Só que logo depois perdi a moeda. É praga do 99.

 

Por que não colocam R$ 5,00 de vez, tentam iludir o cliente que custa R$ 4,00 e alguma coisa? As pessoas só se fixam no quatro, não veem o resto.

 

Não concordo. R$ 16,99 para um pessimista como eu, È R$ 17,00, O otimista diz: — custa R$ 16!

 

Até taxi 99 agora existe! Não para mim, não pego.

 

E as famosas lojas de R$ 1,99? Não tem nenhum produto por esse preço. Outro dia entrei numa delas, tinha uma banca de R$ 1,99. Fui olhar.

 

Eram bonecas com defeitos, algumas faltavam um braço, outras uma perna. Quer dizer um braço ou uma perna tem o mesmo valor? Foi ai que pensei  “vou dar uma de esperto e comprar  duas” Chegando em casa, tiro a perna de uma e coloco na outra . Resultado, perdi R$ 3,98, pois a perna não encaixava  de jeito nenhum. Foi Praga!

 

Outro dia entrei no supermercado e comprei diversos produtos com o preço de alguma coisa vírgula 99, Chamei o gerente, pedi um desconto.

 

Falei — só pago algo + 98! Explicando minha implicância pelo 99. Não adiantou, ele não cedeu e eu devolvi a compra.

 

Os jurados do programa tipo “dança dos famosos”, quando o cara vai muito mal eles dão 9.7, se o cara vai mais ou menos dão 9.8, quando é bom dão 9.9 (praga) só quando o cara é perfeito dão 10. Já observei. Nenhum candidato que tirou 9.9 ganhou a final.

 

É a praga dos 99, não tem exceção.

 

Outro dia sonhei que tinham dois números nove, correndo atrás de mim. Queriam me assaltar tive que entrar numa igreja para me livrar deles. Ficaram parados na porta um de cada lado. Depois de muito esperar, desistiram e foram embora. Esses 99 me perseguem.

 

Por outro lado fico no lugar deles. Já pensou em ser 99 a vida toda e nunca chegar a 100?

 

 

 

Dog

Nós éramos três irmãos, três moleques. Como todos os meninos  aprontávamos o dia inteiro.

 

Um dia minha mãe ganhou um cachorrinho para criar. Era um Fox Paulistinha de pêlo ralo e muito irrequieto. Ela mesmo escolheu o nome: “vai se chamar Dog”. Achamos estranho, nós não sabíamos que Dog era cão em inglês.

 

O Dog era nossa diversão diária. Fazíamos com ele as maiores loucuras, principalmente quando minha mãe não estava por perto.

 

Aos poucos o Dog foi se estressando, até se tornar um cão neurótico. Uma das brincadeiras que fazíamos era toreá-lo com uma toalha. Ele vinha enfurecido pegar a toalha e nós gritávamos “OLÉ”. Qualquer coisa que fizéssemos para irrita-lo ele correspondia, mostrando os dentes e rangendo, para nosso delírio.

 

Como era de se esperar muitos casos envolvendo o Dog foram acontecendo.

 

Me lembro de uma vez que ele quis morder uma visita. Este tentou se defender com o guarda-chuva que carregava. Pois bem, desse dia em diante qualquer pessoa que passasse na rua com guarda- chuva, ele atacava até destruí-lo inteiro. As pessoas reclamavam com a minha mãe, que por sua vez nos punha de castigo, nós e o Dog.

 

Tinha um verdureiro que passava pela nossa porta com um carrinho cheio de verduras, oferecendo nas casas. Só que esse verdureiro tinha uma das pernas duras, passava mancando. Pois o Dog tinha certeza que ele mancava só para provocá-lo . Todas as vezes  tentava morde-lo.

 

E lá vinha a reclamação para minha mãe, que punha o Dog e a nós de castigo.

 

O Dog tinha um jeito de atacar: vinha de mansinho, e de repente dava o bote em suas vítimas.

Minha mãe resolveu prende-lo com uma coleira e uma corrente. Pois não é que o danado na hora de colocar coleira inchava o pescoço de tal forma que a coleira ficava sempre folgada. A hora de ele quisesse com um movimento do focinho ele se soltava.

 

A fama de mau caráter foi se alastrando na vizinhança, todos reclamavam com a minha mãe,  “como a senhora deixa um cachorro desses em casa? ”. Meu pai foi ficando irritado, discutindo, é claro, com minha mãe, como se a culpa fosse dela.

 

As reclamações aumentavam. Quando uma cachorrinha entrava no cio, ninguém conseguia segurar o Dog. As vezes sumia por dias. Quando voltava estava magro, acabado, muitas vezes ferido com brigas com outros cachorros. Nessas ocasiões tomava muita agua e dormia por dias e quando acordava era o Dog de sempre. Aprontando.

 

Ele adorava crianças e aguentava tudo o que faziamos com ele. Jamais mordeu um de nós.

 

As vezes dávamos chauzinho com as mãos fazendo uma garra e ele mostrava os dentes. Agente adorava a sua reação às provocações.

 

Um dia aconteceu o inevitável: meu pai resolveu dar o Dog para alguém, com a condição de tratá-lo bem. Com a fama que ele tinha na vizinhança ninguém o quis. Havia um motorista que fazia serviços para meu pai. Era o Zé Caipira. Magrinho, bem alto com um cavanhaque bem comprido. Ele gostava muito da nossa família.

 

Todo ano, próximo ao Natal, o Zé Caipira nos presenteava com um cabritinho, só que vivo. Não preciso dizer o tamanho do problema que nos causava.

 

Pois o Zé Caipira foi o único que aceitou levar o Dog para casa. Morava na periferia.

 

Depois de uns dez ou quinze dias apareceu na nossa porta um outro cachorro, sujo, magro. Ele não entrou, ficou só na nossa porta parado dormindo. Demorou um tempo para a gente reconhecer que era o Dog. Mandamos  ele entrar, minha mãe o lavou e cuidou de suas feridas, ele bebeu muita agua, se alimentou e dormiu. Só depois de dois dias ele despertou, inicialmente se tornou manso e sociável. Só depois de uns cinco dias voltou a ser o Dog de sempre para a alegria de todos.

 

Nota do autor.

 

Apesar de todas as loucuras e brincadeiras que fizemos com o Dog, nós o amávamos.

Ele também nos amava. Ficava todo dia esperando a nossa volta da escola. Fazia festa. Quando alguém adoecia, não saía do pé da cama.

Foi um cão que marcou nossas vidas para sempre. Dog, você esta vivo na nossa memória.

 

Avião X Vapor


A minha avó, dona Fernanda, depois que ficou viúva formou um grupo super  grande de amigas que trabalhavam muito, toda semana para obras de caridade. Eram bordados, crochês, panos de prato, sem contar as risadas que rolavam nessas reuniões.

Adoravam viajar juntas para estações termais, como Lindoia, São Pedro, etc… onde faziam a cura das Aguas. Eram 16 dias bebendo agua na fonte.

Saiam juntas para jantar. Até piqueniques elas faziam.

Naquele ano programaram uma viagem para a Itália, em pleno verão Europeu.

Quando suas amigas a convidaram e a nossa família insistiu para que fosse, ela descartou logo de cara “Não vou” mas porque? Todos queriam saber, pois ela era sempre a primeira a aderir.  Gostava muito da companhia das amigas. Dizia. “só gosto de vapor”.

Como a viagem seria de avião, minha vó repetiu “ Non ci vado!”  mas por que?

“Tenho paura de avião”

As amigas não se conformaram: “mas Nanda você gosta tanto de viajar, gosta da nossa companhia”, “Gosto, mas de avião não vou”. “mas você foi tantas vezes para a Itália”. “Fui mas de vapor. De avião não vou”.

Eu, o resto da família insistimos, para ela ir. “Mas Nona, vamos pedir para o seu médico  receitar um comprimidinho, você vai dormir a viagem toda”

Ela ficou desconfiada e perguntou se era muito forte esse remédio. Seu médico  acalmou a Nona e com um pouco de convencimento por parte dos filhos e das amigas, resolveu ir. Quando ia entrar no avião tomou o comprimido. Sentou no seu lugar e apagou. Quando acordou já estava na Itália.

Gostou tanto que disse: –  “ Agora só viajo de avião”

Rodaram bastante, beberam bons vinhos, passearam,  visitaram todas as igrejas do caminho até que chegou o dia de voltar.

Aeroporto! Diz uma delas: – Gente! Vamos rezar, para que a viagem de volta seja melhor que a vinda. Meu Deus, quanto medo. Eu mesma chorei muito. O avião balançou o tempo todo. Raios caiam do céu. No primeiro instante minha avó não entendeu, só depois que as amigas contaram os detalhes que ela compreendeu.

Ficou em pânico. E agora? O que faço? Lembrou-se dos comprimidos. “Dessa vez vou tomar dois”. No avião tomou os comprimidos, sentou no seu lugar e só acordou no Brasil. Nem chegou a jantar. Desembarcando no aeroporto pensou:

Nunca mais Viajo de avião. “Vapor é piu seguro”.

 

 

Colesterol

Faço exame de sangue. Resultado: meu colesterol esta nas nuvens. O dobro do máximo recomendado. O ruim esta alto, o bom esta baixo e a soma …

 

Fico pensando o que me levou a esta situação. Serão as rabadas que minha mãe fazia toda quinta-feira? (parodiando o grande Ronaldo Golias) com todo aquele molho maravilhoso, que a gente passava o pão até o prato ficar limpinho?

 

Não posso esquecer do pão com manteiga na chapa. Lembro que toda manhã  eu comia o meu e o da minha irmã, que não queria engordar.

 

A picanha, grelhada, com aquela gordurinha de lado. Quem resiste tirar a gordura e comer só a carne?

 

Esse não sou eu. Comer picanha sem gordura, é como ir num casamento e não comer um bem-casado.

 

Leio no Google que 70% dos problemas de colesterol são hereditários. Fico aliviado sem dor na consciência. A culpa é do meu tataravô, que passou os gens para meu bisavô, este para o meu avô, depois meu pai, até chegar em mim.

 

E as batatas fritas, que eu adoro? Com certeza, por ano devo comer uns 36 quilos. Pensando bem, não é muito são 3 quilos por mês, somente.

 

Queijo prato, bacon, chocolate, milk-shake, sorvete, costelinha de porco, bem torradinha, um bife a milanesa, salsicha! Será que foi isso?

 

Mas então o que eu posso comer para baixar meu colesterol?

 

Vou ao Google novamente, e leio:

 

  • Salmão – não gosto
  • Nozes – só no natal
  • Batata doce – só se for frita
  • Feijão – não pode ser feijoada?
  • Alho – fica no estomago, sem contar que sou casado e minha mulher não merece.
  • Abacate – de sobremesa. Adoro batido com leite condensado.

Adaptando o que diz o filósofo: tudo que é bom ou é pecado, ou aumenta o colesterol!

 

 

O PARTO

Sempre pensei que parto fosse aquele ato de dar a luz.

 

Com o tempo fui descobrindo que existem muitos outros usos para a palavra.

 

Para mim pessoalmente, me sentindo na situação de um bebê, sair da cama, bem cedo, no frio, ai! Que coisa complicada. Costumo brincar, isto é um verdadeiro parto. Sair daquele quentinho gostoso para enfrentar o dia, que, como um bebê recém-nascido, não saberei como será.

 

Bem, já ouvi muitas vezes:  “Nossa foi um parto ”.

 

Tentar entrar no vagão do metro na hora do Rush! Meu Deus, que parto!

 

Foi um parto conseguir descalçar a bota depois de 10horas no avião.

 

Um verdadeiro parto aconteceu numa  noite de chuva e frio em que a Borboleta, nossa Golden, pôs no mundo 12 cachorrinhos! Complicado isso.

 

Arrancar um dente com duas raízes, sendo que uma delas era bem curva. Até a dentista disse que foi um verdadeiro parto.

 

Escrevendo este texto, porém percebi,  que NÃO!  A palavra parto não poderia jamais ser usada de forma tão vulgar.

 

Parto significa parir.

 

Parir significa dar a luz.

 

Dar a luz significa trazer ao mundo um bebê.

E trazer ao mundo um bebe, significa a alegria imensa de ver o fruto (em situações normais – claro) do amor de um casal que se ama.

 

E um casal que se ama, inebriado de carinho, amor infinito, e responsabilidade, sempre se lembrará de que este grande presente de Deus será seu para sempre.

 

Dedico este texto para Sil, San, Mo, Ste.

 

 

O velhote, a mocinha e o hippie

Deus me foi apresentado quando eu ainda era praticamente um bebê.

Aquela figura, um velhote gorducho e de cara brava, não podia ser tão bonzinho. Falavam que ele castigava!

E principalmente castigava as crianças que não comiam todo bife de fígado, como eu, que dava tudo escondido para o gato.

Maria, a Nossa Senhora veio logo depois. Ela, uma mocinha feita de marfim que morava dentro de uma espécie de foguetinho, e viajava intergalaticamente, ao sabor da minha imaginação.

Era corajosa, aquela mocinha.

Depois veio Jesus, um moço de cabelo comprido e barbudo, tipo um hippie, que falava de paz e amor.

Eu não entendia como aquele moço cabeludo podia ser filho de um velhote bravo, que nem Deus. Deveria ficar de castigo todo dia porque me falavam que Jesus não parava em casa, vivia por aí com um monte de hippies, nas montanhas, cantando e conversando.

Conforme cresci e estudei para a primeira comunhão, fiquei mais informada sobre essas três pessoas.

Mas minha opinião não mudou muito sobre eles.

Maria continua sendo aquela mocinha corajosa, que aceitou ficar grávida para gerar Jesus, o filho de Deus.

Jesus, continua o hippie que falava de paz e amor, e ainda anda por aí, espalhando essa mensagem com simplicidade no coração das pessoas.

Quanto a Deus, minha opinião mudou um pouco.

Ele continua a ser aquele velhinho gorducho, mas não é bravo, castigador, é bonzinho e cheio de presentes, assim tipo Papai Noel !!!

A Sopa

Rubem Braga, Paulo Mendes Campo e Humberto Werneck, escreviam contos todos os dias, cada um para o jornal que trabalhavam. Porém eram amigos.

 

Um dia Rubem estava sem inspiração, e apelou para o amigo: “Paulo me dá uma dica para um conto” este então respondeu: “Sopa! Escreve sobre sopa”

 

1 – Isto me fez lembrar do meu amigo Walde. Executivo Paulista que foi transferindo para a Filial do Rio de Janeiro.

 

No primeiro Domingo convidou sua colega de trabalho para pegar uma praia. O Sol está magnifico, já no fim da tarde, passa um ambulante vendendo caldo verde. Pensou o Walde “vou cair nesse caldo de cana, deve estar geladíssimo. Na verdade era sopa de caldo verde, tão apreciada pelos Portugueses.

 

Para não fazer papel do otário, na frente de sua colega, tomou toda sopa, e ainda ofereceu: esta servida? “não obrigado” ai ela pensou: “Esses Paulistas…”

 

Voltando ao assunto da sopa,

2 – Diz o ditado popular: “cautela e caldo de galinha, não faz mal a ninguém”, cautela não sei mas um caldo de galinha, com peito de frango desfiado, arroz bem molinho, salsão, cebola! Ai que delicia, só pode fazer bem.

 

3 – Alguns Italianos, principalmente os descendentes de Vênetos, tem o costume de pingar vinho na sopa. Cecilinha, amiga de minha filha, ficou para o jantar. Foi servido sopa. Pinguei um pouco de vinho no seu prato, ela começou a chorar dizendo que não gostava desse tipo de brincadeira, se recusou a tomar a sopa, não quis nem mesmo substituir por outra sem vinho.

 

4 – Lisboa. Eu e minha mulher estávamos esperando chegar o ônibus de turismo, para fazer um tour pela Cidade, minha mulher conversava com uma Italiana que também iria fazer o tour.

 

Perguntei para a senhora Portuguesa, que nos havia vendido a passagem, se ela sabia fazer sopa de caldo verde! “O que? Se eu sei fazer? Meu caldo verde é o melhor de Lisboa”, então pedi “dá a receita para a minha mulher”. Ela então interrompeu o papo de minha mulher com a Italiana, e começou a dar a receita, era longa com os mínimos detalhes, a couve, choriço, etc. Eu comecei a ficar angustiado, vendo que o ônibus iria chegar, e não daria tempo, de completar a receita, felizmente deu. Quem ficou mau humorada foi a Italiana: “falta de educazione”. À noite fomos jantar, não tive dúvida, pedi uma caldo verde! Estava uma delícia.

 

5 – Meu amigo Júlio Cesar engenheiro, ganhou uma bolsa de estudos num desses países do 1º mundo. Fez amizade com outro engenheiro que trabalhava no laboratório. Este o convidou para ir à sua casa, fazer uma visita. Lá chegando, foi recebido com simpatia. Conversaram por um longo tempo, de repente o amigo pediu licença, colocou duas latas de sopa para esquentar e tomou. Uma ele e outra a sua esposa. Desapontado, Júlio Cesar ficou só olhando, e compreendeu, ele havia sido convidado para uma visita, não para jantar.

 

6 – Minha tia Virtudes era famosa pela sopa de alho poró. Quando alguém perguntava a receita, ela sorria e dissimulava, não ensinava para ninguém. Morreu com a receita, nunca ensinou. Azar nosso. Sua sopa só ficou na saudade.

 

7 – Sopa de Peixe, minestrone, sopa de cebola, de feijão (delícia), de lentilha, de grão de bico, de ervilha, consomê…

 

Vou parar que estou ficando faminto.

 

Aviso: sopa de abóbora com gengibre, por favor não me convide. Eu detesto.

 

Nota do Autor: Ruben Braga, Paulo Mendes Campos, Humberto Werneck, São alguns dos mestres dos contos Brasileiros.

Música Sertaneja

“Neste viola eu canto e gemo de verdade, cada toada representa uma saudade.” Aonde se poderia encontrar um verso com tanta delicadeza e profundidade?

 

“No rancho funcho, bem pra lá do fim do mundo onde a dor e a saudade cantam coisas da cidade”. Os Sertanejos mesmo longe dos seus rincões, vivem “loucos de saudade, só por causa do veneno das mulheres da Cidade”.

 

Quem consegue descrever uma história comovente como: Fizemos a última viagem, foi lá no sertão de Goiás, fui eu e o Chico Mineiro, também foi o Capataz” …

 

Ou o romantismo simplório de “toda vez que viajava pela estrada de Ouro Fino, de longe eu avistava, a figura de menino”.

 

Depois de Tunico e Tinoco a música sertaneja cresceu e se espalhou por todo o Brasil.

 

Duplas fantásticas surgiram, como Chitãozinho e Xororó, Milionário e Zé Rico, Zezé de Camargo e Luciano, Bruno e Marrone, Cezar Menotti e Fabiano, Vitor e Leo e muitas outras.

 

Ainda algumas com nomes criativos: Gino e Geno, Rio Negro e Solimões, Simpatia e Gente Fina…

 

Surgiram grandes cantores, como Sergio Reis, Paula Fernandes, e os mais recentes, Luan Santana, Michel Teló e agora um Garoto do Sul, com muito futuro: Junior Villa.

 

Só quem ama entende: “é o amor, que mexe com a minha cabeça” … “que veio como um tiro certo no meu coração” …

 

E só quem brigou com a amada entende: “felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora”

 

Que bom que existe a música sertaneja, simples, criativa, doída, romântica e apaixonada.

 

Enquanto houver amor, ela sobreviverá.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OVO FRITO

Leio num conto de Rubens Alves que alguém está revindicando uma indenização  pelos ovos fritos que deixou de comer.

Explico: Há cerca de cinco ou mais anos, os cientistas que estudavam alimentação humana, chegaram a conclusão que o ovo era o grande vilão para as doenças  do coração, uma verdadeira bomba relógio no colesterol. Ingeri-los era um suicídio. Diziam mais, que ovos, só os de páscoa(chocolate) ou aqueles que os russos fazem para decoração.

Depois de alguns anos os cientistas chegaram a conclusão que não era bem assim, que o ovo é um excelente alimento, pouco altera o colesterol. Enfim o ovo estava liberado.

Se isto for verdade, também vou querer uma indenização. Nos últimos cinco anos, deixei de comer meu ovo frio, pelo menos duas vezes por semana. Como o ano tem  52 semanas, deixei de comer 104 ovos por ano, se contarmos os últimos 5 anos, dará 520 ovos!

Deixei de me deliciar com 520 ovos fritos nesse período.

Aquele ovo frito com a clara com as bordas tostadinhas e a gema inteira, que a gente vai comendo pelas beiradas  até chegar no momento supremo  de quebrar a gema, que  vai escorrendo devagar,  no meio do nosso prato  de arroz e feijão. Então a gente molha o pão naquela gema e vai se deliciando! Depois  mistura-se com o arroz e feijão… e lentamente vai-se comendo tudo.

Já pensou perder esse prazer 520 vezes? Quero também uma indenização.

Agora, não podemos esquecer que fazer um ovo frito, bem feito, exige da cozinheira muita competência  e conhecimento. Ter que comer um ovo que estourou a gema  na hora de fritar é como comer um bombom sem tirar o papel.

Quando eu era adolescente  todo dia  de manhã minha mãe fazia para mim um ovo quente. “É bom para o crescimento” dizia ela. Não sei, por que ela dava também para o meu pai, que  já era bem grandinho.

Outro dia  conversando com uma amiga, disse a ela que eu na cozinha era zero , e acrescentei, nem ovo frito eu sei fazer, só cozido. Pois não é que ela começou a me ensinar como fritar um ovo Logo eu? Ainda argumentei: – “na cozinha existem dois tipos de pessoas: as que sabem cozinhar , e as que batem palmas. Eu sou do segundo grupo”.

Agora estou pensando em pedir as indenização de 1040 dólares, dois dólares por ovo. Vai dar para cobrir meu cartão de crédito no fim do mês, e talvez o da minha mulher também… ( MAS ACHO DIFÍCIL)

A BENZEDEIRA

A cidadezinha, era pequena, daquelas que o leiteiro passa na porta com o leite que acabou de ordenhar, o peixeiro com os peixes pendurados num pedaço de ripa, o lixeiro na carroça.

O sino da igreja  era, para todos, o relógio! Se tocasse fora de  hora, alguém tinha morrido.

Lá vivia uma pessoinha muito importante  para a cidade. Ela era bem idosa, gracinha de pessoa e todos a conhecíamos e amávamos.

Vestia-se de preto  ou azul marinho com florzinhas ou bolinhas brancas, sapatinho baixo preto e o cabelo, sim o cabelo, branquinho, preso num coque bem apertado, lá embaixo, perto da nuca. Ela era a benzedeira mais amada e procurada  da cidade.

Ouvia cada  pessoa, perguntava seus problemas e ai sim começava a benzer.

Nós, crianças , então adorávamos Dona Joaquina, pois ela, além de conversar, abraçar, ouvir, dividir, ainda tinha uma lata onde guardava guloseimas, que ela mesma fazia, tipo bolachinhas, maria-mole, suspiro, etc… Ela literalmente nos pegava no colo. Ah que bom foi ter vivido naquela Cidade e naqueles tempos.

Eu costumava ir lá todas as tardes . Minha mãe às vezes não queria pois achava que eu estava bem, mas eu insistia: – preciso ir. Acreditava piamente que Dona Joaquina era um anjo. Sentia-me alegre quando ia  lá para benzer.

Agora, adolescente, depois que Dona Joaquina foi para o céu, rebelde que estava ficando, afirmava  de pés juntos, que nunca mais na vida acreditaria nessas bobagens. Só um anjo como Dona Joaquina  tinha esse poder.

Na juventude continuava a achar que esse negócio de quebranto era grande  besteira.

Formei-me e namorando esqueci todo esse negócio de quebranto, mau olhado, energia ruim etc… Só pensava no namorado, de quem era muito apaixonada e também  de sua família, principalmente  da futura sogra, que também gostava e mim.

Porém … como dizia uma vizinha de casa, que era muito falante: – “a gente paga a lingua”.

A minha querida sogra era o que se chamava de benzedeira.

Eu pensava como poderia uma senhora tão fina, elegante, culta fazer isso? Pois bem…

Assim como D. Joaquina, tinha aquele carinho especial, que ajuda tanto quando de uma carência.

Era tão carismática quanto ela e assim, tão querida. Todos os dias tinham pessoas em sua casa, pedindo para que ela fizesse uma oração por elas, isto é, benzesse.

Hoje a benzedeira sou eu. Escolhida por ela para ser sua sucessora, aqui estou eu a benzer filhas, netos, filhos de amigas, netas de amigas de amigos, enfim … Paguei a lingua!

FOTOS DA MEMÓRIA

As vezes tiramos uma foto apenas com os olhos. Uma pequena foto, um instantâneo  que condensa toda a ternura por alguém que amamos e que fica num cantinho da memória por toda vida!

Certas ocasiões é uma sequencia de fotos, uma outra imagem, uma risada, uma careta, um gesto tão pequeno que não se pode contar para alguém por que não saberíamos como fazê-lo. É apenas um instantâneo!

Quando mais rica a nossa vida afetiva, mais instantâneos teremos guardados. Ah! Que coisa mais gostosa quando nos vem à memória. Que alegria traze-los de volta.

A nascente na casa da nona, o nono engarrafando o vinho, o pai chegando à noitinha.

Imagens tão fugazes que se você não ficar atento, quase não dá para perceber.

O primeiro amor, quando olho no olho ele disse que me amava!

O cheirinho dos nossos bebes! E seu olhar, mamando em nosso seio, segurando nosso dedo, de nossas mães então… o beijo de boa noite, o vicvaporub, o óleo figado de bacalhau(na marra).

E a comida? Vejo a panela de molho de macarrão fervendo, e o cheirinho…

Bem as vezes nossa memória também nos trai e traz acontecimentos que guardamos bem lá no fundo, e que gostaríamos de esquecer, mas assim mesmo aparecem.

Esses não são apenas instantes, são fatos vividos, que nos fizeram  evoluir. Mas se vão também…

E assim vamos formando o nosso álbum pessoal, que nos traz vez ou outra a vida que vivemos.

Não a vida pensada, sonhada, mas apenas a vida vivida.

 

 

CASAIS

 

CASAL I

 

Ela era uma adolescente diferente, fora dos padrões. Passava quase todo o seu tempo livre lendo, escrevendo, decifrando os significados de poemas.

Diferentemente de suas colegas, ela gostava da quietude. Mas daquele tipo de quietude boa, que fala dentro da gente.

Os pais preocupavam-se:

“Essa menina tem que sair da concha!”.

Mas enganavam-se. Ela nadava há tempos no mar aberto das letras.

Na escola, durante a aula de literatura ela recebeu a tarefa de escrever em dupla, um pequeno livreto de poesia.

Se animou toda, afinal era  craque no assunto! Porém  quando soube qual seria a sua dupla, a animação virou tédio: o clichê “bonitão – popular sem cérebro” iria trabalhar com ela.

E o pior: aos sábados

  • “Ninguém merece”! Pensou ela. “Vou ter que fazer tudo sozinha, claro . E ainda aguentar esse cara que provavelmente nem um gibi leu na vida”.

Eles nunca haviam trocado uma palavra na escola antes.

Chegou o sábado, e ele  tocou a campainha. Ela abriu e sorriu assim sem graça, estranhando o fato dele  carregar alguns livros de poesia em baixo  do braço.

Sentaram-se e começaram a planejar o trabalho. Ele estava meio calado, ainda mantinha  máscara social do “bonitão-popular”. Aos poucos, porém foi se soltando e revelou-se um garoto sensível  e inteligente. Para a  surpresa dela, ele entendia sim de poesia.

E tinham  como preferido, os dois , o poeta Paulo Leminsky. Coincidência que os animou a usar poesia  concreta para elaborar o livreto.

Nos quatro encontros que se seguiram, o relacionamento deles começou a se aprofundar em amizade, poesia, a um passo para o amor.

Ela, que antes nunca havia  visto nenhuma beleza no bonitão estava encantada.

Ele, que nunca havia reparado nela, estava apaixonado pela primeira vez. Só pensava nessa menina tão diferente das outras, mas tão igual à ele. Mas adolescente que era, a menina ficou com medo desse amor. Ele era lindo, assediado desde sempre.

Vivia rodeado de amigos, e amigas. E ela era de outro   “mundo”. Sabia com que olhos os amigos dele a viam: a estranha, a nerd, a rata de biblioteca.

Claro, ela tinha medo de sofrer por amor, como nas poesias.

Ele, logo percebeu a insegurança dela. Mandou-lhe uma mensagem pelo celular:

 

“ COM OUTROS OLHOS

OU COM

OS OLHOS DOS OUTROS?”

Leminsky.

 

E ela então lhe respondeu:

“DO AMOR

CONHEÇO OS SINTOMAS

E OS HEMATOMAS”

 

Ele riu. Era só um medo bobo dela.

Devolveu:

“ O DESTINO QUIS QUE A GENTE

SE ACHASSE

NA MESMA ESTROFE

E NA MESMA CLASSE

NO MESMO VERSO

E NA MESMA FRASE”

Leminsky

 

Ela leu. E sorriu.

Ah, a poesia!

 

 

 

CASAL II

 

O casal entrou no avião com destino a Miami. Eram belíssimos. Ela, loira, alta, bronzeada. Ele atlético, bem vestido, olhos verdes.

Os passageiros não tiravam os olhos deles, inclusive eu.

Reparei que discutiam baixinho com a aeromoça. Algo estava errado.

O problema era que tinham caído em poltronas separadas. Confidenciaram: estamos em lua  de mel.

Prontamente cedi meu lugar  para que  os pombinhos pudessem  ficar juntos.

Sentei ao lado deles, separado pelo corredor e fiquei espiando seus movimentos.

Percebi que desde que embarcaram não haviam trocado nenhuma palavra. Nem um monossílabo sequer.

A aeromoça chegou com duas  taças de champanhe, como cortesia.

Começou então uma sensação interminável de selfis. Taças  cruzadas, descruzadas, sorrindo, sérios, com selinho, com beicinhos, enfim, todo repertório de poses.

Mas não conversaram, apesar  de  que percebia-se que não estavam brigados.

Estranhei esse comportamento vindo de uma casal em lua de mel. Esperaria empolgação, carinhos, troca de ideias sobre como foi o casamento.

Mas eles continuavam mudos.

Ao terminarem as fatos, ele  se recostou, pôs os fones de ouvido  e mergulhou nos filmes.

Ela, ficou horas editando as fotos a serem postadas.

Afinal tinham que compartilhar com o mundo a sua mutua felicidade.

 

 

 

 

CASAL III

 

Aquele casal de velhinhos chineses parecia perdido num mar de ruídos de crianças.

Eram baixinhos e usavam aquelas roupinhas orientais, abotoada até o pescoço. Ela, levava uma sacola com um pequeno guarda-chuva colorido.

Esperavam o trem que os levaria do estacionamento da Disney até a porta do Parque.

Quando o trem chegou, as crianças avançaram e somente sobrou para eles, lugares separados por uma fileira.

Esse casalzinho ficou desesperado. Parecia que não haviam se separado nunca na vida.

Quando o trem começou a andar, eles esticaram os bracinhos, e procuraram as mãos.

E para comoção geral foram o tempo todo de mãos dadas, aquelas mãozinhas pequenas e enrugadas dos velhinhos até chegarem no destino final.

 

Caso de polícia

Já era uma rotina.  Quando chegava o final de semana, a família ia para o sítio da avó e lá ficava até domingo. Ar puro, espaço para brincar, piscina. Tudo o que faltava morando num apartamento de cidade grande. Além da mãe e seus dois filhos, o quarto elemento dessa família era Taina, uma cachorrinha poodle, pequena e muito esperta.

A cachorra era danada e tinha o péssimo habito de sair correndo sempre que saiam do elevador. Num destes sábados, ela fugiu e ninguém percebeu. Todos no carro, só com o carro dobrando a esquina a menina perguntou – “Mãe, cadê a Taina?”

Pânico geral. A cachorra não estava no carro. Voltaram correndo e começaram a procurar pelo prédio. Os porteiros se dispuseram a ajudar, penalizados ao ver a menina com lágrimas nos olhos que repetia – “ eu não quero ficar sem a minha cachorra!” . Comissão de busca, todos os lugares do prédio checados e nada. Voltas de carro pelo bairro e o menino, mais prático, sugeriu: “ E se ela foi atropelada? ”. Pronto, agora a menina chorava copiosamente.

A mãe ainda passou nos veterinários do bairro, mas nem sinal da cachorra. Sem saber o que mais poderia fazer, encomendou faixas para espalhar pelo bairro.  Pagou caro para serem colocadas, mas uma taxa extra de desespero certamente foi embutida no calor do momento.

Seguiram para o sítio, a mãe na esperança que lá as crianças se distraíssem. O caminho foi um verdadeiro inferno com a menina chorando o tempo todo. “ Coitada, a Taina deve estar apavorada sem a gente!!”. A mãe sugeriu que se não a encontrassem, podiam comprar um novo cachorro. Foi pior, a menina dizia que nunca mais ia querer um outro cachorro. Já o menino, mais uma vez mais prático, começou a fazer uma lista de possíveis raças e nomes para um futuro cachorro. Enquanto isso a irmã soluçava.

Estar no sítio pouco ajudou. Até o menino, com a melancolia do cair da tarde, pensou a onde a cachorrinha iria passar a noite e também chorou. A esta altura não havia mais nada de prático nele, ele não queria comer, não queria brincar, não queria falar. A mãe se fazia de forte, mas a culpa – a eterna culpa de todas as mães – a mortificava por dentro: “ fui eu quem deixou a cachorra fugir… devia ter colocado o bichinho no carro e só depois me preocupado com as malas…”.

Noite péssima e mais choro na cama, aberto das crianças, furtivo da mãe. Dia seguinte de sol, mas ninguém se animava a sair de casa. A mãe recebe um telefonema. Era a avó. “Ligaram da sua portaria, acharam a Taina!”. Gritos, pulos, abraços! Deus é bom!

Voltaram correndo para casa. A cachorrinha, alegre, correu para as crianças. Porteiro gratificado, todos felizes. Vem a pergunta inevitável: “ achou aonde? ”. E o porteiro: “- na casa do chinês, aqui, vizinho de muro! Eu ouvia a cachorrinha latir, latir, e pensava, eu conheço este latido. É que dá para ouvir, né? Vocês moram no 6º andar e o latidinho dela eu já conheço faz tempo…”.

Intrigado com o sumiço da cachorra e os latidos do outro lado do muro, o Sr Américo, nosso porteiro, foi lá tocar a campainha. O chinês pai abriu a porta, e deu para ele ver, lá dentro a cachorrinha, agora já vestida com nova coleira e guia – chinesas naturalmente. O chinesinho filho, de uns 3 anos de idade, levando a cachorra de um lado para outro. Ele reclamou: “ Ei, essa cachorra é do meu prédio!”. O chinês se fazia de desentendido, balançava a cabeça negativamente num misto de não estou entendendo com essa cachorra não é sua.

O Sr Américo foi ficando nervoso, gesticulava, apontava para a cachorrinha. O chinês finalmente respondeu – “ Cachola, do meu filho!”. Falou assim, cachola, porque os chineses não conseguem pronunciar o nosso erre. O porteiro voltou para o prédio com muita raiva do chinês. Não ficou nem cinco minutos na portaria. Não aguentou, era muita cara de pau. Voltou. Tocou a campanhia de novo e falou: “ eu vim buscar a cachorra, e se o senhor não devolver agora, já, neste minuto, eu vou chamar a polícia. Polícia, polícia!”. O chinês virou uma estátua. Depois de alguns segundos, virou as costas, entrou e voltou com a cachorrinha na mão. Não disse uma palavra. O Sr Américo não coube em si de felicidade, sim tinha sido, em alguma proporção, um herói.

A mãe e o porteiro nunca esqueceram esta história, que no fim, foi até divertida. Uma vez a mãe cruzou com o chinês na calçada e não aguentou: “ Aqui quem louba cacholo vai pleso, sabia?”

Os meninos cresceram, tiveram mais uma irmã, a menina casou-se, o menino virou rapaz e foi morar com o pai. A Taina, sempre aprontando muito, se foi de velhice.

E assim é, a vida passa, mas as nossas histórias de amor e de afeto, essas sempre ficam.

Silvia

DOR DE BARRIGA

Quem  nunca teve uma dor de barriga levante a mão. Ela é manhosa, traiçoeira, aparece quando quer, sem compromisso, sem aviso, sem cerimônia.

Como aquele apaixonado que dando o anel para sua amada, no pedido de casamento, saiu em disparada. A noiva ficou paralisada,   sem saber o que estava acontecendo.

Será que ele desistiu? Só quando ele voltou, com a cara de alivio, foi que ela entendeu.

E o caso do alpinista que  estava subindo a montanha de neve, pela cadeirinha pendurado num fio quando sem avisar, ela apareceu. Ele sentiu que não daria tempo de chegar ao fim da linha. Pronto resolveu lá mesmo. Azar da  neve.

Na entrevista para emprego, ela notou que estava agradando, quando de repente falou:  ̶ vou dar uma saidinha e já volto. Conclusão perdeu o emprego.

Um grupo de jovens vinham passando por uma avenida movimentada, fazendo aquela algazarra que só os jovens sabem fazer, quando um deles pediu: — Pára já o carro estou necessitando. Os amigos percebendo a situação,começaram a zoar.  ̶  Deixa de manha. Seja homem. Segura mais um pouco. E ele dizia, pára, pára, pediu com tanta aflição que os amigos resolveram parar. Ele correu até uma palmeirinha no canteiro central da avenida e foi ali mesmo. Os amigos saíram do carro e começaram a parar os outros carros que passavam, e mostravam a cena, com grandes risadas, e arruaças.

O marido tinha a mania de ficar lendo no banheiro, de repente a mulher sentiu aquela pontada característica na barriga, bateu na porta do banheiro, mas sentindo que o marido demorava para abrir a porta, viu um saco plástico ali de jeito, e pensou vai ser aqui mesmo. E foi.

Quando ela passou na catraca da portaria,no prédio em que trabalhava, ela sentiu aquele aviso fatal. Pensou: — ainda bem que só tem 3 pessoas na fila do elevador. Apertou o 20. Uma apertou o 6 a outra o 13 e o último o 14. A dor estava apertando quando a moça do 6 desceu. A do 13 quando foi descer ainda fez charminho para o rapaz do 14. Segurou um pouco a porta e sorriu. No 14 o rapaz desceu. Ela pensou ainda bem, não tem mais ninguém. Engano. Tinha uma firma que ocupava três andares o 15, 16 e o 17. No quinze entraram mais duas, uma desceu no 16 e a outra no 17. Esta última chegou a perguntar se ela estava se sentido bem. Quando finalmente chegou ao 20 deu de cara com a sala da diretoria aberta. Pensou: — vai ser aqui mesmo.

Dor de barriga é ruim, mas é bom. Serve para limpar os intestinos, como diziam os antigos, e depois que passa, dá um alívio…

 

 

 

 

 

O QUADRO

Italiana, daquelas que nunca perdeu o sotaque. 50 anos de Brasil. Nunca quis ser chamada de avó ou vó. Tinha que ser nona.

Chamava as netas de bambina, a massa de pasta e amor para ela era amore.

Casou-se jovem, claro que com um italiano. Tiveram uma filha e viveram felizes por um bom tempo, até que ele partiu. Dramática como só os italianos sabem ser, chorou, chorou, chorou. Até que um dia parou de chorar e pensou: Vou aproveitar la vita. Como? Indo para La Bella Itália. E assim foi. Anos e anos a fio, idas e vindas.

Como tinha sido alpinista na juventude, um amigo presenteou-a com um belo quadro (pintado por ele) representando a montanha com neve etc…etc., Ela adorava o quadro. Pendurou no melhor lugar de sua sala. Quem a fosse visitar, seria impossível não vê-lo, tinha que ouvir toda a história do quadro.

Seu genro, que gostava muito de brincar com ela, vivia dizendo: bela obra de arte, mas se ela lhe desse o quadro e mais mil reais, ele não aceitaria, talvez o quadro e mais dez mil reais, ele iria pensar no caso. Ela sempre ríspida respondia: Questo quadro non tem preço. Sabia que era gozação, mas ficava irritada. Assim mesmo.

Ao completar 96 anos achou que era hora de sossegar e mudou-se para a casa da filha, e por lá ficou mais algum tempo, porém sem desmanchar sua casa. Pensava “e se lá de repente não me dou bem…”. Sempre lúcida e com sotaque, chamava sua filha de bella!

Nunca perdeu a lucidez. Nem seu gênio irracível.

Um dia sua filha querendo agradá-la sugere: Vamos trazer o quadro da montanha e colocá-lo no seu quarto assim… Bella, não conseguiu terminar a frase, e já veio a resposta: Ma filha io nem morri e você já está desmanchando tuta la mia casa?

TIRE SUA SORTE

Sou um vidente cibernético. Tiro a sorte de meninas jovens e adolescentes, mesmo de longe. Se você é jovem, adolescente e quer comprovar, vou ler sua sorte.

            Para que você fique confiante no que eu vou escrever, farei este  trabalho em  três etapas: passado, presente e futuro. Leia com atenção e responda.

– Passado:

Você na escola teve muitas amigas. Algumas porém que se diziam suas amigas, na realidade tinham inveja de você, e sempre procuraram lhe prejudicar, falavam mal na suas costas e lhe gozavam. Isto deixava você magoada com muita raiva e tristeza.

 

– Você teve um professor que  sempre foi injusto com você. Isto lhe trouxe problemas.

 

– Seus pais nunca a entenderam, embora você fizesse tudo para agradá-los.

 

– Você  nunca esteve satisfeita com seu  corpo, peso, altura, cabelo, etc. Quando você se via no espelho só enxergava esses defeitos.

 

– Você teve relacionamentos com meninos, que nunca fizeram você feliz completamente. Quer seja pelas  atitudes deles, quer seja pelo seus comportamentos. De quem você gostava mesmo, não ligava para você.

 

– Você sempre foi uma pessoa romântica, o que as vezes lhe causou decepção.

 

– Você guarda com tristeza a lembrança, aquela festa que todo mundo foi convidado, menos você.

 

– Presente:

Atualmente você está numa fase difícil. Está dividida. Tem que tomar algumas decisões mas não sabe que caminho seguir.

–  Seu relacionamento com seus pais, ainda está tumultuado, sem muito diálogo.

 

“Não adianta, eles não ouvem você.”

 

_ As vezes você se sente muito só.  Fica triste, chega até a chorar, se olhando no espelho.

 

– Com amigas você tem sempre um pé atrás. No amor também. Tem medo de se machucar.

 

– Você não tem certeza do amor dele por você, nunca teve.

 

– Você sempre oscila entre uma menina e uma mulher. Não está sendo fácil.

 

– Futuro:

 

– Vejo um futuro brilhante para você. Vai se formar, mas não vai trabalhar naquilo que você escolheu. Vai ser uma profissional brilhante em outro setor. Será muito considerada e admirada.

 

– Continuará a ter muitas amigas, sinceras, que gostam de você. Mas a melhor parte está no amor. Você encontrará a pessoa certa. Não vai ser fácil, mas você será feliz. Filhos, com certeza.

Boa sorte.

PEIXE

Foi o Romário, aquele grande jogador de futebol quem primeiro usou o termo “peixe” como sinônimo de amigo, protegido, comparsa. “Fulano é meu peixe”.

Agora o real sentido da expressão “peixe fora d´água”, só tive durante um almoço. De ambos os lados sentaram-se pessoas que eu não conhecia. Deveriam ser amigos, conversavam o tempo todo sem se importar comigo no meio deles. Ofereci trocar de lugar, mas eles recusaram. De repente um falou “ele é peixe pequeno” e eu acrescentei – “lambari”. Olharam-me feio, e prosseguiram.

“Olho de peixe morto”, era uma prima do meu pai, que fazia charminho para ele com os olhos ligeiramente cerrados, despertando o ciúmes e o ódio de minha mãe. Lá em casa quando se referia a ela minha mãe dizia – “se a olho de peixe morto for,  eu não vou”.

E por falar em peixe, vou dar uma dica para os cientistas transgênicos e modificadores genéticos: Por que não desenvolvem, um peixe sem espinha? Iria facilitar a todos, aos garçons dos restaurantes, às mamães que limpam para os seus pimpolhos… “ela é um espinho de peixe atravessado na minha garganta”, não teria mais sentido.

Não há ninguém com mais de 50 anos que não saiba o que é um carrão “rabo de peixe”. Com o porta malas imenso, e duas pontas salientes, uma de cada lado. Pode parecer incrível, mas eu já achei esse carro o máximo. Um vizinho tinha um o que despertava em mim uma certa dor de cotovelo. Ele sabendo disso, quando passava, me dava um chauzinho.

E nas canções: “peixe quer mar… menos peixe a nadar no mar, do que… ou é doce morrer no mar… opa!”  A onde está o peixe nesta canção?

No mar é claro.

Tem peixe que subiu na escala social. Por exemplo a tilápia passou a se chamar “Saint Peter”.

Tem signo de peixe, tem “filho de peixe peixinho é”, tem vaca que morreu afogada quando se apaixonou pelo peixe boi, mas o que eu quero escrever agora é do “peixe que morre pela boca”. Ele está  lá na água, tranquilo quando de repente surge na sua frente uma minhoca, ou um camarão, paradinhos, prontos para serem engolidos, sem muito esforço. O peixe resolve saborear aquele quitute, mal sabe ele que o pescador traiçoeiro, colocou um anzol, só para fisgá-lo. Sacanagem.

De tanto falar em peixe, fiquem faminto. Que tal jantar um peixe espada, com uma farofinha de banana?

ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS

Existe algo mais anacrônico hoje em dia do que album de fotografias? Depois das fotos digitais, gravação de fotos no computador, pen drive, e agora os arquivos nas nuvens…?

Outro dia minha neta Tuque-Tuque, abriu um desses álbuns, que agente ainda guarda num armário perdido, e ficou pasma quando encontrou uma foto minha, da juventude, na beira da piscina, e viu que eu tinha uma barriga de tanquinho. – “Vô não acredito olha sua barriga agora! Tem uma onda só!”  E eu acrescentei: “ – Voce não faz ideia, quantos dólares eu gasto para manter esta barriga.”

Não resisti, e comecei a folhear o álbum. Encontrei uma foto do meu casamento civil. Lá estava o Pacheco, coitado morreu cedo. Meu pai, minha mãe, minha sogra, todos já na glória de Deus. E os padrinhos, também já se foram.  Vivos mesmos só eu e minha mulher. Até o juiz de paz…

Vendo as fotos que  tirei ao longo da vida, constato que na maior parte daqueles lugares, se eu estive, apagou-se da minhan memória. “- Mas será que são minhas essas fotos?”

Encontro uma foto de minha mulher grávida. Essa foto valeu. Uma de minhas filhas  sempre teve dúvida se ela era adotada. Serviu de prova.

Vendo essas fotos, tenho vontade de picar tudo e jogar fora. Abrir espaço no armário para guardar outras tranqueiras. Ai resolvo fazer uma seleção antes de picar com certeza.

Todas as fotos dos “ex” namorados, namoradas, etc, vou picar. Ou no mínimo, fazer como antigamente, recortar com uma tesoura as caras dos “ex”.

Aquelas fotos das crianças fazendo castelo de areia, não posso picar.  A foto da cachorrinha que quando morreu minha mulher chorou uma semana, essa eu vou picar.

Encontro uma foto de minha juventude, eu e minha mulher,  ainda solteiros. Lá estão também  o Paulinho que era apaixonado por ela e a Claudia que gostava de mim. Essa não vou picar. Vou fazer no Paulinho, um óculos, um cabelo moicano, e um cachimbo na boca. A Claudia vou deixar  do jeito que está. Tão linda sorrindo. Para que minha mulher não reclame , caso encontre esta foto, só vou fazer um dente banguela.

Acho uma foto com dedicatória: Aos queridos padrinhos uma recordação da 1ª comunhão, Tadeu. Vejo bem a foto, vou buscar nas profundezas da memória, quem seria essa pessoa. – “ Acho que era o filho do Nicola…” e por falar nisso que fim levou o Nicola? Lembro da sua figura: gordo, baixinho, sem pescoço. Peidava que era só ele. E se justificava “ – operei a vesícula”. Torcia para o time rival…

Pensando bem, vou chamar o meu neto Dedé que sabe tudo de computador, pedir para ele escanear todo álbum e arquivar nas nuvens. Tem que ser um arquivo seguro. Assim não ficarei com remorso, de picar uma foto por engano. Abrirei espaço no armário. Minha mulher vai gostar.

1 ANO

 

Nosso blog está completando um ano. Foram 24 publicações entre contos, listas e crônicas. A finalidade sempre foi de diversão. Para nós e para os eventuais leitores. Estivemos sempre conectados com os colaboradores.

Muitas pessoas curtiram. Tivemos ao todo mais de 5.000 acessos. Alguns totalmente inesperados, como pessoas que moram em outros países ou em locais muito distantes. Obrigada a todos.

Muitos perguntaram, o que são contos coletivos? Esclareçamos: são contos iniciados por um colaborador e completados por outros. Sempre uma colaboradora pelo menos é mulher e o outro, ou outros, homem. É importante que o tema seja abordado pela visão masculina e feminina.

Os colaboradores são profissionais em outras áreas que escrevem por puro prazer. Não temos revisões, não temos restrições de forma e conteúdo. É uma coisa sem compromisso, livre, leve e solta. Não temos outra pretensão a não ser nos divertir. As críticas e sugestões são sempre bem vindas. Não deixe de opinar. Beijos de toda a equipe.

 

Livros: sem eles não fico

Eu dou risada, fico triste, choro. Já senti muita raiva. Às vezes fico com medo de continuar, porém a curiosidade é tão grande que não consigo parar. Torço para que tudo aconteça como imaginei, mas nem sempre as coisas acontecem como eu gostaria, é claro.  A vida é assim. Outras vezes me surpreendo, porque tudo acaba bem, mesmo quando a encrenca era tão grande que parecia que não tinha mais jeito.

Já viajei no tempo e fui para o passado. Vi a escravidão e fiquei horrorizada. Quanta maldade! Não imaginava que existissem pessoas tão ruins no mundo. Quem também vi sofrer muito foi uma garota, uma tal de Poliana. Tudo de ruim acontecia com ela, mas ela não deixava a peteca cair. Ela nunca ficava triste, porque em tudo ela conseguia ver alguma coisa boa. Até mesmo no quartinho minúsculo e abafado e cheio de moscas em que ela dormia. Às vezes eu queria ser mais como ela.

Conheci também a Amélia, uma menina muito esperta, que se disfarçava e descobria vários crimes. Ela desconfiava de gente comum, mas no fim ela sempre estava certa. Eram bandidos mesmo! Por falar em crimes, já vi um detetive a desvendar um assassinato. Um não, nove assassinatos. Cada pessoa que morria aparecia uma pequena estátua de um negrinho quebrada. Como eram nove negrinhos, eu sabia que mais gente iria morrer. Foi tudo muito assustador!

Nem tudo foi tenso. Convivi com gente muito engraçada, como um garoto que tem um tigre que fala. Eles me divertiram com suas piadas e foram muito legais os momentos em que estive com eles. Pena que passaram rápido demais.  Adorei também conhecer a Raquel, uma menina que andava com um galo e um alfinete de estimação na bolsa. Assim como o tigre, eles também falavam com ela. Fiquei com muita vontade de ter um brinquedo que também falasse comigo.

De quem eu tive muita pena foi de um garoto horrível, que foi construído pelo pai. Por ser muito feio, ninguém respeitava o coitado. Ele acabou se tornando malvado. Se fosse hoje, seria considerado bulling e com certeza ele não seria tão judiado. Quem sabe ele não seria um menino legal?

Adoro viajar nos livros e entro com tudo nas histórias, sou engolida por elas.  Nesses momentos não ouço minha mãe me chamar, meus irmãos brigarem comigo, a minha cachorrinha latir. Não ouço nem mesmo o meu celular tocar. Quando termino um livro, fico assim meio triste, parece que estou me despedindo daqueles personagens. E eu odeio despedidas. É por isso que não deixo a minha mãe doar os meus livros, gosto de saber que quando eu quiser posso abri-los e matar as saudades!

Nina Romano Aiach

POETAS

Os poetas são seres que escrevem coisas  que nós  humanos comuns temos vontade de dizer mas não conseguimos.  Falar para a pessoa amada: “De tudo a meu amor serei atendo antes. E com tal zelo e sempre e tanto que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais meu pensamento”.(Vinicius).

Quem poderia definir melhor a relação Pais/Filhos do que: “Nossos filhos não são nossos  filhos. São os filhos da ânsia da vida por si mesma”.(Khalil Gilbran).

Expressar a dor da perda de um amor: “repousa lá no céu eternamente, e viva eu cá na Terra sempre triste”.(Camões).

Ainda bem que existem os livros e hoje também  a internet: “  As vezes ouço passar o vento, e só de ouvir o vento passar vale a pena ter nascido”.(Fernando Pessoa).

As coisas corriqueiras como o vento, são inspiração para esses seres iluminados.

Ensina-nos o mestre Drumont: “Ser feliz sem motivo é a mais autentica forma de felicidade”.Ou como nos deixou Gandhi: “Não existe caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”.

Nos evangelhos, lemos: “Você faz as escolhas e elas fazem você”.

Os poetas brincam com as palavras: “E desde então, sou porque tu és. E desde então és sou e somos. E por amor serei…serás…seremos”.(Neruda).

Outras vezes são sucintos: “Lucidez é um acesso de loucura ao contrário”.(Quintana). Não resito em repetir Quintana: “Minha vida é uma colcha de retalhos. Todos da mesma cor”. E para finalizar: “Antes que me amasses, já te amava. Em sonho tal e qual és te avistei. Sabia que no mundo existias e enfim chegou o dia que eu te encontrei. E nunca mais de ti me separei”.(Autor desconhecido).

Obrigado senhor pelos poetas existirem.

QUANTOS ANOS VOCÊ TEM?

Perguntinha simples, mas difícil de responder. Para as mulheres é mais fácil; mentem sem pestanejar. Duro depois é lembrar o número que escolheram. Para os homens que estão paquerando uma menina mais jovem, tem aquela tática infalível de diminuir 10, se tem 52 fala 42, tem 47 fala 37. É simples e não tem erro.

 

É comum as mulheres, porem, aumentarem a idade quando estacionam no Shopping na vaga de idosos; se tem 45 dizem 60 – a regra também vale quando vão ao supermercado ou ao cinema e entram na fila preferencial. E quando uma velhinha que está na fila reclama, elas dizem – Tenho 62 anos – e mostram o documento. Como as velhinhas normalmente não enxergam bem, fica o dito pelo não dito e ainda recebem um elogio – Puxa, não parece!

 

Não existe adolescente de 15 anos que não tenha falsificado uma carteirinha para poder entrar num cinema ou numa balada. Umas não gostam de falsificar; neste caso usam a carteirinha de uma amiga ou de uma prima mais velha, mas todas usam, é uma coisa inata a nos brasileiros.

 

E quando uma menina mais velha começa a namorar um garoto mais novo? Mentira na certa – lá se vão 4 ou 5 anos para a casa do chapéu. Em fim, ninguém está satisfeito com a idade que tem. Nem eu que vou fazer 38 !! No mês que vem.

 

 

 

74 anos

Sete mais quatro igual a onze. Um time de futebol, com defesa e ataque. Goleirão que não deixa passar nada, bola alta sai do gol, e tira de soco.

 

Onze é o número sagrado do Tibet. Significa o homem (1) junto com Deus (1)…11.

 

11+1 = 12 noves fora: 3. Significa a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.

 

Quem viveu até os 74 anos de uma coisa pode ter certeza, não vai morrer com 73. Está fora de perigo.

 

Uma pessoa de 74 anos é sábia da vida. Sabe tudo; tem experiência de tudo. E quando tem a alegria de viver, sabe dar valor a tudo que é novo, tudo que é desconhecido.

 

Quer ver todos os lugares bonitos do mundo que ainda não viu. Com uma certa pressa. O amanhã é hoje. O daqui a pouco é agora, Depois eu vejo, não existe.

 

Se você chegou a essa idade com relativa saúde, se você ama e é amada, você é uma pessoa especial, principalmente para quem lhe ama. Que Deus a abençoe.

 

Velho

Jovem sai do chuveiro, se olha no espelho, faz pose de halterofilista e diz:  “Vai ser bonito e forte assim lá em São Bernardo do Campo!”.

Na maturidade sai do chuveiro se olha no espelho e diz:  “Você é o máximo, bonito, inteligente e realizado!”.

Na terceira idade, sai do chuveiro se olha no espelho e grita: “Socorro, tem um velho no meu banheiro!”.

Ser velho é muito relativo. Tem adolescente de 15 anos que namora um rapaz de 23, e as “amigas” fofocam: ” Nossa, ela está namorando um velho!”.

Um rapaz de 23 namora uma moça de 30. Os amigos comentam que está saindo com uma velha.

O sessentão convida a secretária gata para jantar e o pessoal do restaurante sussura:   ” Olha só aquela gatinha, está com aquele velho!”.

Dois amigos setentões se encontraram. ” Poxa vida, você está sempre igual, não fica velho! O que você faz para ficar assim?” perguntou um para o outro. E o amigo respondeu : ” Todo dia de manhã como cinco cenouras, mas sem tirar aquela pelinha de fora, pois é lá que está a vitamina!”.

Depois de um tempo, esse amigo ficou sabendo que o outro havia morrido. “Morreu? De que? Ele estava tão bem…” indagou incrédulo. ” De tanto comer cenoura crua. Ingeriu tanto agrotóxico que não teve jeito…” explicou a filha do falecido, consternada.

Autor: Geraldo Romano