Arquivos mensais: abril 2017

Matemática Pessoal

Meu primeiro contato com os números foi aos cinco anos, por aí.

 

Me ensinaram que eles serviam para representar a quantidade das coisas, tipo dois patinhos é igual ao número “2”.

 

No decorrer do tempo, tornei-me íntima dos numerais e comecei a imagina-los como uma pequena família.

 

E como toda família, cada um tem a sua própria personalidade.

 

O 1, por exemplo, é um menino traquinas, com o joelho sempre ralado.

 

Eu uso o verbo no presente pois ainda os sinto assim, personagens vivos.

 

O 5, é quem põe fogo no 1, que acaba sempre apanhando, coitado.

 

O 8 é um menino boa praça, adora contar piadas e tem risada mais gostosa do mundo.

 

Das meninas a 2 é a mais vaidosa, sempre cuidando dos seus cachinhos.

 

Já a 7 é a malvada, vive espionando e batendo nos irmãos.

 

A 6 é namoradeira, terrível! Pula a janela para ir à festas, deixando as irmãs em polvorosa quando tem que encobrir suas escapadas. Além disso é linda e esperta, amiga de toda malandragem da redondeza.

 

A 3 e a 4 são inseparáveis tem um mundo só delas, até uma língua inventaram para se comunicar.

 

Finalmente a 9! Ela é doce e solidária é a mãezona deles e adorada por todos.

 

Mas o tempo passou.

 

Essa família de numerais começou a mudar.

 

Ficaram de repente cheios de sinais, +, -, x, de virgulas, fracionados, entre parênteses, colchetes, positivos, negativos, atrás de zeros!

 

Eu não conseguia mais entende-los, e eles nem aí. Me olhavam sérios, ocupados em resolver complicados problemas.

 

Depois de um tempo me conformando, cheguei à conclusão: eles haviam crescido.

 

Não eram mais meus, eram do mundo, dos problemas, das equações!

 

Outro dia, os vi, em um caderno qualquer. Eles pareciam felizes, marchando todos amontoados, cheio daqueles sinais estranhos.

 

Mas vi algo que me preocupou.

 

As meninas, a 2, 3, 4, 7 e até a 9 estavam andando grudadinhas com os “x”, os bad-boys da redondeza.

 

Isso só pode ser coisas da 6!

 

Sabia que ela não é uma boa influência!

 

A Sopa

Rubem Braga, Paulo Mendes Campo e Humberto Werneck, escreviam contos todos os dias, cada um para o jornal que trabalhavam. Porém eram amigos.

 

Um dia Rubem estava sem inspiração, e apelou para o amigo: “Paulo me dá uma dica para um conto” este então respondeu: “Sopa! Escreve sobre sopa”

 

1 – Isto me fez lembrar do meu amigo Walde. Executivo Paulista que foi transferindo para a Filial do Rio de Janeiro.

 

No primeiro Domingo convidou sua colega de trabalho para pegar uma praia. O Sol está magnifico, já no fim da tarde, passa um ambulante vendendo caldo verde. Pensou o Walde “vou cair nesse caldo de cana, deve estar geladíssimo. Na verdade era sopa de caldo verde, tão apreciada pelos Portugueses.

 

Para não fazer papel do otário, na frente de sua colega, tomou toda sopa, e ainda ofereceu: esta servida? “não obrigado” ai ela pensou: “Esses Paulistas…”

 

Voltando ao assunto da sopa,

2 – Diz o ditado popular: “cautela e caldo de galinha, não faz mal a ninguém”, cautela não sei mas um caldo de galinha, com peito de frango desfiado, arroz bem molinho, salsão, cebola! Ai que delicia, só pode fazer bem.

 

3 – Alguns Italianos, principalmente os descendentes de Vênetos, tem o costume de pingar vinho na sopa. Cecilinha, amiga de minha filha, ficou para o jantar. Foi servido sopa. Pinguei um pouco de vinho no seu prato, ela começou a chorar dizendo que não gostava desse tipo de brincadeira, se recusou a tomar a sopa, não quis nem mesmo substituir por outra sem vinho.

 

4 – Lisboa. Eu e minha mulher estávamos esperando chegar o ônibus de turismo, para fazer um tour pela Cidade, minha mulher conversava com uma Italiana que também iria fazer o tour.

 

Perguntei para a senhora Portuguesa, que nos havia vendido a passagem, se ela sabia fazer sopa de caldo verde! “O que? Se eu sei fazer? Meu caldo verde é o melhor de Lisboa”, então pedi “dá a receita para a minha mulher”. Ela então interrompeu o papo de minha mulher com a Italiana, e começou a dar a receita, era longa com os mínimos detalhes, a couve, choriço, etc. Eu comecei a ficar angustiado, vendo que o ônibus iria chegar, e não daria tempo, de completar a receita, felizmente deu. Quem ficou mau humorada foi a Italiana: “falta de educazione”. À noite fomos jantar, não tive dúvida, pedi uma caldo verde! Estava uma delícia.

 

5 – Meu amigo Júlio Cesar engenheiro, ganhou uma bolsa de estudos num desses países do 1º mundo. Fez amizade com outro engenheiro que trabalhava no laboratório. Este o convidou para ir à sua casa, fazer uma visita. Lá chegando, foi recebido com simpatia. Conversaram por um longo tempo, de repente o amigo pediu licença, colocou duas latas de sopa para esquentar e tomou. Uma ele e outra a sua esposa. Desapontado, Júlio Cesar ficou só olhando, e compreendeu, ele havia sido convidado para uma visita, não para jantar.

 

6 – Minha tia Virtudes era famosa pela sopa de alho poró. Quando alguém perguntava a receita, ela sorria e dissimulava, não ensinava para ninguém. Morreu com a receita, nunca ensinou. Azar nosso. Sua sopa só ficou na saudade.

 

7 – Sopa de Peixe, minestrone, sopa de cebola, de feijão (delícia), de lentilha, de grão de bico, de ervilha, consomê…

 

Vou parar que estou ficando faminto.

 

Aviso: sopa de abóbora com gengibre, por favor não me convide. Eu detesto.

 

Nota do Autor: Ruben Braga, Paulo Mendes Campos, Humberto Werneck, São alguns dos mestres dos contos Brasileiros.

Música Sertaneja

“Neste viola eu canto e gemo de verdade, cada toada representa uma saudade.” Aonde se poderia encontrar um verso com tanta delicadeza e profundidade?

 

“No rancho funcho, bem pra lá do fim do mundo onde a dor e a saudade cantam coisas da cidade”. Os Sertanejos mesmo longe dos seus rincões, vivem “loucos de saudade, só por causa do veneno das mulheres da Cidade”.

 

Quem consegue descrever uma história comovente como: Fizemos a última viagem, foi lá no sertão de Goiás, fui eu e o Chico Mineiro, também foi o Capataz” …

 

Ou o romantismo simplório de “toda vez que viajava pela estrada de Ouro Fino, de longe eu avistava, a figura de menino”.

 

Depois de Tunico e Tinoco a música sertaneja cresceu e se espalhou por todo o Brasil.

 

Duplas fantásticas surgiram, como Chitãozinho e Xororó, Milionário e Zé Rico, Zezé de Camargo e Luciano, Bruno e Marrone, Cezar Menotti e Fabiano, Vitor e Leo e muitas outras.

 

Ainda algumas com nomes criativos: Gino e Geno, Rio Negro e Solimões, Simpatia e Gente Fina…

 

Surgiram grandes cantores, como Sergio Reis, Paula Fernandes, e os mais recentes, Luan Santana, Michel Teló e agora um Garoto do Sul, com muito futuro: Junior Villa.

 

Só quem ama entende: “é o amor, que mexe com a minha cabeça” … “que veio como um tiro certo no meu coração” …

 

E só quem brigou com a amada entende: “felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora”

 

Que bom que existe a música sertaneja, simples, criativa, doída, romântica e apaixonada.

 

Enquanto houver amor, ela sobreviverá.