Arquivos mensais: fevereiro 2022

AMULETOS

Tenho um sapato que me dá sorte, toda vez que surge algum problema para resolver, vou a reunião com ele. Tem dado certo, não tem lógica, mas tem dado certo.

Racionalmente, acho que é uma bobagem. Mas continuo usando, o problema é que agora devido a tanto uso, como diriam meus netos, ele abriu o bico. Não sou de desistir, colei a sola, e pronto, não deu certo ele fica meio de lado. Mas jogar fora não vou. Mandar num sapateiro fera, quem sabe.

Vice-versa ao contrário. Tenho alguns que me dão azar. É só sair com eles que me dá algum problema. Não jogo fora, porque custaram caro. Mas acabo ficando com raiva. Ficam de lado num lugarzinho obscuro da sapateira.

É interessante isso que acontece comigo e com muitas pessoas. Elas se apegam a um objeto mágico que para se sentirem protegidas. Uma bolsa, um lenço de pescoço, um colar ou uma pulseira, chaveiro então …

Nada como a Vivi que quando conheceu o Carlos, estava com um anel de pedra amarela no dedinho.

Enquanto durou o namoro ela não tirou mais. Um dia ela descobriu que estava sendo enganada pelo cafajeste do Carlos. Tirou o anel e o espatifou na parede.

Mesmo depois quando eles voltaram e ela quiz colar o anel quebrado, não deu mais certo. Coisa colada, já viu dá azar.

No Futebol, nem se fala. Tenho um amigo que só assistia aos jogos da Seleção Brasileira, vestido com a camisa 10 do Pelé. Pois bem, na véspera do jogo do Brasil X Alemanha, não achou sua camisa de jeito nenhum. Resultado: 7×1 para Alemanha. Até hoje ele põe a culpa na mulher.

Eu tenho um neto que tem duas camisas do seu time de coração. Uma é oficial e a outra fria.  Em todos os jogos ele veste a camisa. Quando perde ele diz que usou a camisa fria. E se vangloria: “ nunca vi meu time perder quando uso a camisa oficial. “

 

 

Rio

Não adianta dar nome a um rio, porque depois de alguns segundos ele não é mais o mesmo.

O grande compositor Paulinho da Viola ao ver sua escola de samba Portela desfilar na avenida, com fantasias azul e banco, compôs a inesquecível canção: “ Foi um rio que passou que passou em minha vida e o meu coração se deixou levar.

Leio no “ mulheres reciclando a alma”.  “ Deixo o rio correr, tudo vem ao seu tempo”.

Uma das mais incríveis lembranças que eu tenho na vida, foi em Bonito em mato Grosso do Sul. Lá existe um passeio que você veste uma roupa de borracha e máscara, e mergulha num rio com forte correnteza. Como a água possui carbonato de cálcio, é super límpida, azul, transparente.  A correnteza vai te levando sem esforço e você vai vendo os peixinhos no fundo, e a vegetação sub- aquática. É uma visão incrível. Nunca pude esquecer.

Se perguntarem a qualquer carioca onde você mora. Ele responde: No Rio para ele não existe Rio de Janeiro. É só Rio e pronto.

Todos os Rios sofrem uma angústia tremenda: “ Mas para onde eu estou indo”. “ Sinto correr, correr, sem saber o final. Só quando desemboco no Mar é que descubro: Eu também sou Mar”.

Alguns Rios são orgulhosos e não gostam de se misturar quando encontram outros Rios. Só depois de uma longa caminhada é que começam a interagir.

Rio é Rio. Mas o que são as cachoeiras? É quando o Rio quer se mostrar, quer que todos olhem para ele e digam: “ OH! Que lindo”. É um momento de pura vaidade do Rio, é de extrema beleza para quem olha.

Os rios detestam as pontes: “ Porque todo mundo quer passar por cima de mim”?

E as passagens subterrâneas então nem se fale: “ não respeitam minha intimidade”.

Os Rios como humanos são diferentes entre si. Tem suas personalidades uns são engraçados, outros brincalhões, outros altivos e inalcançáveis.

Num declive tranquilo são bonzinhos e nos convidam para escorregar e rir.  Outros brincalhões com pequenas escadinhas de pedra fazendo ondinhas, fazem as águas cantarem.

Outros altivos, nos mantem à distância sem intimidades.