A menina não parava de chorar. Perdera o primeiro amor aos 15 anos: ele se encantou por outra.
A pobre acordava com os olhos inchados, soluçava a noite toda.
E durante o dia lágrimas frescas escorriam.
Não comia, não estudava, ou assistia à tv. Nem com as amigas falava mais.
Passava o dia no sofá esperando o telefone tocar em vão.
A mãe não sabia o que fazer, ela mesma nunca passara por aquilo. Casou-se com o primeiro namorado, um namoro chocho, ao contrário da filha, nunca sentira a força avassaladora da paixão.
Chazinhos, calmantes, chocolate, presentes, nada remendava o coração quebrado da filha.
A mãe assuntava com todos que conhecia:
-Não sei o mais que fazer!
A chinesa da feira ouviu as lamentações da freguesa e deu a entender que poderia ajudar:
⁃ Vai médico“sinez! ”
A mãe titubeou..médico chinês? Chinês…será? É esquisito…eles põem aquelas agulhas, manda comer tatu bola frito…
Quase declinou, mas era uma tentativa não custava.
No dia seguinte a menina se arrastava ao lado da mãe rumo ao bairro chinês.
O consultório d Dr “sinez “ficava no fundo de um restaurante.
Elas sentaram em umas cadeiras de pano floral gastas e duras. Logo apareceu um senhor chinês de jaleco branco, robusto. Sentou -se e deu uma olhadela para as duas. Não falou nada. Nem perguntou qual era a queixa da paciente. Entregou para a mãe um vidro grande com centenas de pílulas prateadas do tamanho da cabeça de um alfinete.
“ Uma bolinha por dia” falou. E se retirou.
A mãe meio confusa, pegou aquele vidro, olhou, achou estranho, sem nenhum rótulo…
“Não vou dar isso para a menina”,
Mas depois pensou na feirante Dona Mitiko, era sua freguesa há anos, e Mitiko era uma mulher muito séria, não ia indicar charlatão.
E assim resolveu dar o remédio para filha.
Uma por dia, o Dr falou.
Uma bolinha prateada
Dia após dia…
Uma bolinha…
Após dia, uma bolinha…
Uma bolinha…
Bolinha
Bolinha
Após dia, uma bolinha…
Uma bolinha…bolinha.
Bolinha…
Um dia a menina acordou pedindo o pãozinho com manteiga especial da mãe.
Depois pediu para ir no salão. Queria o cabelo da moda. Combinou de sair com as amigas. E saiu toda perfumada. E de batom.
A mãe, aliviada por ver a filha viva novamente não se conteve no seu contentamento!
Não se segurou e foi até o consultório do Dr “ sinez” para contar sobre a cura da sua filhinha, levar o um bolinho de fubá, sua especialidade.
Na saída, encarou o Doutor e perguntou:
-Me desculpe Doutor, mas do que é feito esse remédio? Os princípios ativos, ingredientes? O que há nessas bolinhas afinal??
Dr “Sinez” apertou os olhinhos:
⁃ “Tempo”