Arquivos mensais: outubro 2017

Avião X Vapor


A minha avó, dona Fernanda, depois que ficou viúva formou um grupo super  grande de amigas que trabalhavam muito, toda semana para obras de caridade. Eram bordados, crochês, panos de prato, sem contar as risadas que rolavam nessas reuniões.

Adoravam viajar juntas para estações termais, como Lindoia, São Pedro, etc… onde faziam a cura das Aguas. Eram 16 dias bebendo agua na fonte.

Saiam juntas para jantar. Até piqueniques elas faziam.

Naquele ano programaram uma viagem para a Itália, em pleno verão Europeu.

Quando suas amigas a convidaram e a nossa família insistiu para que fosse, ela descartou logo de cara “Não vou” mas porque? Todos queriam saber, pois ela era sempre a primeira a aderir.  Gostava muito da companhia das amigas. Dizia. “só gosto de vapor”.

Como a viagem seria de avião, minha vó repetiu “ Non ci vado!”  mas por que?

“Tenho paura de avião”

As amigas não se conformaram: “mas Nanda você gosta tanto de viajar, gosta da nossa companhia”, “Gosto, mas de avião não vou”. “mas você foi tantas vezes para a Itália”. “Fui mas de vapor. De avião não vou”.

Eu, o resto da família insistimos, para ela ir. “Mas Nona, vamos pedir para o seu médico  receitar um comprimidinho, você vai dormir a viagem toda”

Ela ficou desconfiada e perguntou se era muito forte esse remédio. Seu médico  acalmou a Nona e com um pouco de convencimento por parte dos filhos e das amigas, resolveu ir. Quando ia entrar no avião tomou o comprimido. Sentou no seu lugar e apagou. Quando acordou já estava na Itália.

Gostou tanto que disse: –  “ Agora só viajo de avião”

Rodaram bastante, beberam bons vinhos, passearam,  visitaram todas as igrejas do caminho até que chegou o dia de voltar.

Aeroporto! Diz uma delas: – Gente! Vamos rezar, para que a viagem de volta seja melhor que a vinda. Meu Deus, quanto medo. Eu mesma chorei muito. O avião balançou o tempo todo. Raios caiam do céu. No primeiro instante minha avó não entendeu, só depois que as amigas contaram os detalhes que ela compreendeu.

Ficou em pânico. E agora? O que faço? Lembrou-se dos comprimidos. “Dessa vez vou tomar dois”. No avião tomou os comprimidos, sentou no seu lugar e só acordou no Brasil. Nem chegou a jantar. Desembarcando no aeroporto pensou:

Nunca mais Viajo de avião. “Vapor é piu seguro”.