Tinha pedras, tinha casca de árvore, tinha uma fontezinha com água corrente, tinha até plantas. Acho que tinha mais mato do que a plantas.
– As borboletas e os insetos não reclamavam, usavam e abusavam mesmo assim do jardim.
O único que se opunha era o jardineiro, que aparecia bem de vez e quando, arrancava os matos (só os graúdos) e molhava o resto.
– Um dia foi eleito um síndico que achou que era preciso fazer na frente do prédio, onde ficava o jardim, um estacionamento para motoboys, pois quase todos no prédio usavam seus serviços e não havia local onde pararem.
– Foi então que a dentista do 2º andar protestou: “ como acabar com o jardim? O Senhor está louco”?
– O advogado do 4º andar concordou: “ O jardim só dá despesas. “
– O velhinho que há anos ocupava o 73, disse: “ Para mim tanto faz “.
– Já o casal de psicólogos do 103 sugeriu: “ Vamos ampliar o jardim, diminuindo a escadaria de dois metros de largura. Um metro é suficiente. ”
– O economista do 11º e 12º andar quis saber: “ Será que o síndico vai arcar com as despesas sozinho? Se for dividir eu sou contra. “
– A moça do 102 se ofendeu: “ Como retirar as plantinhas que eu mesmo ajudei a plantar? “
-Já o engenheiro do 53 foi sincero: “ Eu nunca reparei que tinha um jardim na entrada. “
– A polêmica foi crescendo. O Zelador opinou: “ se fizer o estacionamento vai aumentar o serviço. Teremos que limpar o pátio. E as manchas de óleo? E as bitucas de cigarros que com certeza os motoboys vão deixar? “
– No elevador algum anônimo colocou um bilhete: “ Assassinos da natureza “
– Ninguém mais reclamou que o condomínio estava elevado. Que o consumo de água estava excessivo, o assunto era o jardim.
– Foi aí que alguém opinou: “ Vamos deixar para a próxima reunião. “
– O sindico por sua vez perdeu o sossego. A toda hora batiam na sua porta para reclamar ou dar apoio.
– Foi aí que aconteceu o previsto, o sindico renunciou em caráter irretratável e irrevogável, e tudo continuou “como D’Antes no Quartel de Abrantes. ”
Eu lendo esta história fico pensando, se um simples jardim de um prédio, deu toda essa polêmica, imagina no Congresso Nacional, na discussão dos grandes problemas nacionais