Arquivos mensais: maio 2019

O JARDIM

Tinha pedras, tinha casca de árvore, tinha uma fontezinha com água corrente, tinha até plantas. Acho que tinha mais mato do que a plantas.

 

– As borboletas e os insetos não reclamavam, usavam e abusavam mesmo assim do jardim.

O único que se opunha era o jardineiro, que aparecia bem de vez e quando, arrancava os matos (só os graúdos) e molhava o resto.

 

– Um dia foi eleito um síndico que achou que era preciso fazer na frente do prédio, onde ficava o jardim, um estacionamento para motoboys, pois quase todos no prédio usavam seus serviços e não havia local onde pararem.

 

– Foi então que a dentista do 2º andar protestou: “ como acabar com o jardim? O Senhor está louco”?

 

– O advogado do 4º andar concordou: “ O jardim só dá despesas. “

 

– O velhinho que há anos ocupava o 73, disse: “ Para mim tanto faz “.

 

– Já o casal de psicólogos do 103 sugeriu: “ Vamos ampliar o jardim, diminuindo a escadaria de dois metros de largura.  Um metro é suficiente. ”

 

– O economista do 11º e 12º andar quis saber: “ Será que o síndico vai arcar com as despesas sozinho? Se for dividir eu sou contra. “

 

– A moça do 102 se ofendeu: “ Como retirar as plantinhas que eu mesmo ajudei a plantar? “

 

-Já o engenheiro do 53 foi sincero:  “ Eu nunca reparei que tinha um jardim na entrada. “

 

– A polêmica foi crescendo.  O Zelador opinou:  “ se fizer o estacionamento vai aumentar o serviço. Teremos que limpar o pátio. E as manchas de óleo? E as bitucas de cigarros que com certeza os motoboys vão deixar? “

 

– No elevador algum anônimo colocou um bilhete: “ Assassinos da natureza “

 

– Ninguém mais reclamou que o condomínio estava elevado. Que o consumo de água estava excessivo, o assunto era o jardim.

 

– Foi aí que alguém opinou: “ Vamos deixar para a próxima reunião. “

 

– O sindico por sua vez perdeu o sossego. A toda hora batiam na sua porta para reclamar ou dar apoio.

 

– Foi aí que aconteceu o previsto, o sindico renunciou em caráter irretratável e irrevogável, e tudo continuou “como D’Antes no Quartel de Abrantes. ”

 

Eu lendo esta história fico pensando, se um simples jardim de um prédio, deu toda essa polêmica, imagina no Congresso Nacional, na discussão dos grandes problemas nacionais