Antonia

Bem na esquina morava Dona Antônia. Na Cidade todo mundo a conhecia. Implicava com tudo, com os moleques que jogavam futebol na rua, com os carros que passavam em velocidade.

Sua vítima mais constante era o jornaleiro Toninho, que tinha uma banca um pouco mais para lá.

Ela tentou, porque tentou tirar o jornaleiro de lá: Foi até falar com o Prefeito. Ela dizia: “ele ocupa toda calçada, não dá para passar ninguém, e a sujeira que ele faz! Fuma como uma chaminé e a fumaça entra pela minha janela. ”. Não sei como porque, a janela dela estava sempre fechada.

A única criatura que a aturava Dona Antônia era o cachorrinho vira lata que vivia com ela.

Dava broncas terríveis nele. Parece que ele nem ligava. Permanecia estático, olhando para frente com a cara de paisagem.

A calçada em frente à casa de Dona Antônia, era mais limpa da Cidade.

De madrugada era comum vê-la esfregando com um escovão, e sabão de pedra, e aí é que estava o problema. Se alguém passasse com o sapato sujo, deixando suas marcas, essa mulher entrava em transe.

Gritava, xingava, a coisa mais bonita que falava era:  “ seu porco de M. vai pro chiqueiro. ”

Quando passavam as adolescentes e cuspiam um chiclete, para desgrudar ela ficava de joelhos na calçada, raspando até que tirasse tudo.

Quase na outra esquina veio morar uma moça do interior. Tininha era o nome dela.

Quando chegou na rua não acreditou que pudesse existir pessoa tão mau humorada. Pensou, vou dobrar essa mulher.

Fez um bolo e mandou um pedaço para Dona Antônia, ela experimentou e disse: “tá embatumado. “

Tininha não desistiu. Fez brigadeiro e mandou um pratinho.

Dona Antônia provou e disse: “ O gosto é bom, mas não está no ponto. ”

Que progresso pensou Tininha, pelo menos o gosto estava bom.

Acontece que Tininha estava grávida, e mais algumas semanas nasceram as gêmeas. Dona Antônia ficou sabendo e teve curiosidade de ver as meninas.

A primeira vez que Tininha saiu de casa com as bebês, num carrinho duplo, Dona Antônia não se aguentou e veio ver as crianças.

Deu risadinha, incrível, nunca se tinha visto isso.

Todos os dias pela manhã, quando Tininha ia passear com as nenês, Dona Antônia descia. Uma das vezes trouxe um par de meinhas e uma touca, para cada uma delas, de crochê, que ela mesma fizera.

Com o passar dos dias, Tininha percebeu que Dona Antônia era uma pessoa carente, nunca se casara, nunca tivera filhos.

Depois disso aos poucos, ela foi amolecendo. Todos os dias, depois do almoço levava cafezinho pro Toninho joalheiro, antes seu inimigo mortal.

Quando encontrava as crianças, estendia os braços para elas e dizia: “ vem com a vovó. ”

Ficou muito amiga de Tininha, que por ser do Interior, não tinha com quem deixar as crianças quando saia. Dona Antônia, então se sentia a mais feliz das criaturas.

Nota do Autor: Este é um conto de ficção, a única coisa verdadeira é o personagem Tininha que é do livro “ mulheres reciclando a alma. ”

 

 

 

 

 

 

 

 

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