Arquivos mensais: julho 2020

GUARDA CHUVA

   Vocês já repararam como é complexo um guarda chuva? Com todas aquelas varetinhas, o tecido que fica todo esticadinho quando se abre. O Botão que trava e destrava, os biquinhos que seguram as varetas, o cabo? E ainda tem alguns que dobram no meio e ficam pequeninos.

 

      Não sei como os chineses fazem para vender esses guarda chuvas tão barato.

 

   Mas isso não vem ao caso. Quero contar  algumas histórias de guarda chuva que aconteceram comigo.

 

1- ESTÁTUA DA LIBERDADE

 

    Estávamos eu e minha mulher com um casal de amigos, visitando Nova York, quando fomos ver a famosa estátua. Enquanto esperávamos na fila para tomar o barco que faz a travessia, começou a cair alguns pingos de chuva. Resolvi então comprar de um ambulante, um guarda chuva. Falei para o casal de amigos para eles comprarem outro para eles. Se recusaram taxativamente.

 

    De repente os pingos de chuva começaram a apertar, até se transformarem numa chuva pesada. Eu e minha mulher nos abrigamos no guarda chuva que tínhamos comprado, e o casal de amigos, debaixo da chuva. Convidamos para eles se abrigarem também. Resultado, ficamos os quatros ensopados.

 

2- VISITA AO CASTELO

 

   Numa Excursão fomos visitar um castelo. Como estava chovendo, abrimos nosso guarda chuva, até a entrada. Era um guarda chuva meio baleado, inclusive com uma vareta quebrada. Mas numa emergência serviu. Na porta do castelo, o porteiro nos avisou que não poderíamos entrar, que era obrigatório deixar o guarda chuva numa cesta de aço, juntamente onde os outros turistas deixaram o deles.

 

   Visitamos o castelo e na saída constatei que alguém tinha levado o nosso. Não pensamos duas vezes escolhemos um outro bem maneiro e pegamos.

 

   Até hoje nunca ninguém reclamou.

 

3- UM GUARDA CHUVA DE GRIFF

 

   Não lembro se era um Valentino ou um Dior, minha mulher se encantou com um deles numa loja e quis comprar. Apesar dos meus argumentos contrários acabou comprando.

 

   Deixou no carro de prevenção para a primeira chuva. Ela doida de vontade para estrear o guarda chuva. Até que chegou o dia. Abriu a porta do carro com o guarda chuva ainda fechado, quando dois trombadinhas que passavam, tomaram da mão dela, e fugiram. Quando eu ia começar uma bronca, ela começou chorar, achei que melhor não.

 

4- NO RESTAURANTE 

 

   Devo ganhar uma medalha dos chineses por todos os guarda chuvas que perdi.

 

   Mas teve uma ocasião que eu estava  com minha mulher almoçando num restaurante ao ar livre.

 

   Na nossa mesa, pendurado na cadeira alguém havia esquecido um guarda chuva. De repente, começou a cair uma chuva forte. Minha mulher não teve dúvidas abriu o guarda chuva para nos abrigar até a parte coberta do restaurante. A chuva persistiu e ficou miudinha mas constante.

 

   Resolvemos ir embora com o guarda chuva encontrado.

 

   No dia seguinte fomos não sei em qual lugar, e perdemos o guarda chuva.

 

   Foi aí que concluímos que ele era mutante e gostava de mudar de dono.

 

5- VELHINHO

 

  Chovia forte. Um velhinho com grande impermeável e com guarda chuva na mão vinha passando.

 

   Nós de carro perguntamos se ele conhecia aonde ficava o lugar que estávamos procurando.

 

   Ele muito solícito falou “ estou indo pra lá mostro o caminho pra vocês”,  entrou no carro. Caminhávamos mais ou menos uns cem metros, na mesma rua quando ele falou “ é aqui “. Desceu do carro deixando o banco molhado e uma poça de água no chão do carro.

Não era o local que estávamos procurando, o velhinho simplesmente pegou uma carona até onde ele ia.

 

6- ALMA LAVADA 

 

   Seria a primeira viagem com a escola que minha pequena faria. A primeira noite que dormiria fora de casa. Na véspera fizemos a mala, separamos suas coisas, tentando aplacar aquela dorzinha no coração que eu e ela no fundo, estávamos sentindo.

 

   O ônibus da escola sairia às 6 da manhã…. Acordamos, nos vestimos e lá fomos nós. Assim, que chegamos na escola, caiu um toró daqueles ! 

 

   As crianças subiram no ônibus correndo, nos despedimos encorajando e tentando convencer as eles e a nós mesmas. 

 

  “Ah! que legal, filhos, vai ser máximo !! Até aí a chuva colaborou dando uma trégua; mas só eles subirem que a chuva apertou, e enquanto o ônibus não saia, as mães se colocaram em linha com seus guarda chuva ou organizaram-se em duplas no guarda chuva com as amigas. 

 

Sobrei!  só eu estava sem guarda chuva. De repente avistei uma mãe sozinha no guarda chuva e pedi pra ela se podia pegar uma caroninha com ela. Ela meio contra gosto falou “ tudo bem” , mas percebi, quando entrei debaixo do mesmo teto dela, que ela puxava o guarda chuva para ela, que ainda inclinava de quando e quando, e assim caía uma chuva extra em metade do meu cabelo.

 

Aquilo já era demais! Humilhação tem limites.!

 

Olhei bem no rosto dela e disse: – Obrigada, Mirela por sua solidariedade.

 

   E sai debaixo do guarda chuva dela, com a cabeça erguida e o cabelo desgrenhado. Nisso o ônibus começou a fazer barulho e minha pequena, a acenar “Tchauzinho”.

 

  Eu via aqui aquilo e as lágrimas corriam, se misturavam com a chuva, eu acenava,chorava e me sentia grata: pela minha filha estar crescendo, por ser mãe dela, pela vida!

 

Aquela chuva, lavou minha alma! “obrigada Mirella, por esta oportunidade”.

 

   

 

TREM DAS ONZE

    Quem não conhece esse samba maravilhoso do genial Adoniram Barbosa?

 

    Mas o que eu quero chamar atenção é para a frase: “ E Além disso mulher, tem outra coisa, minha mãe não dorme enquanto eu não chegar.”

 

   Já pensou na profundidade dessa colocação ? Quem tem filho ou filha jovem que sai à noite para as festas ou baladas, sabe bem o que é isso.

 

   Você pode até ir dormir, mas não é um sono tranquilo. Você acorda à qualquer ruído e  só sossega quando eles dizem : “ Cheguei. “

 

   Eu sou de uma geração que o pai ou mãe acordavam, punham um roupão por cima do pijama e saiam de carro de madrugada para buscar o filho.

 

   E pior é que naquela época não existia ainda o celular, você ficava sem notícias.

 

   Ainda bem que com celular melhorou muito, isso quando eles não desligam, ou falam que acabou a bateria.

 

   Às vezes você chegava no lugar da festa, mandava alguém procurar seu filho e ficava aguardando até que aparecesse. Às vezes demorava um tempão e você morrendo de sono.

 

   Mas a vida é sempre igual e se repete. Depois que eles casam, têm filhos que ficam jovens é a vez deles colocarem o roupão de madrugada.

 

   Às vezes os pais se organizam, um pai vai levar e outro vai buscar. Melhora um pouco, mas a aflição de quem fica esperando eles chegarem é a mesma coisa.

 

   Hoje existem os aplicativos que diminuíram muito esse problema. Mas a ansiedade até eles chegarem é a mesma.

 

   Daí dá para entenderem o Adoniram Barbosa : “ Não posso ficar nem mais um minuto com você ( namorada) minha mãe não dorme enquanto eu não chegar….