Arquivos mensais: outubro 2015

O Coelho Sonhador

Era uma vez um coelho muito simpático, mas não era um coelho comum ele tinha um sonho,um objetivo,ele queria fazer a diferença na vida de alguém, ele queria ser importante.

Um belo dia,digo um belo dia mesmo, daqueles que o sol bate na água,que tem uma brisa gostosa que os passarinhos cantam em harmonia,o coelho já cansado de correr atrás de seu sonho decidiu que iria esperar até que ele  viesse. Aproveitou para curtir aquele dia lindo…

Então o tempo passou e passou e passou e nada do seu tão querido sonho se realizar.

Até que um dia no fim de tarde o coelho ouviu uma voz, mas uma voz cantando, e era uma voz tão mais tão linda, doce e bela que imediatamente seguiu-a e encontrou uma linda  moça sentada no chão.

Ela tinha cabelos pretos e curtos,lábios vermelhos como sangue e pele branca como a neve.

Na hora ele ficou encantado com sua beleza e desde então passou a ser seu fiel companheiro.

Mas antes que ele pudesse perceber três passarinhos já o estavam guiando para uma casa pequena,muito pequena que parecia de anões.

No dia seguinte lá foi ele visitar a tal moça e para sua surpresa ela estava cantando,limpando e cozinhando.Observou a tão linda moça por dias,semanas e ate mesmo meses.

Quando, em uma tarde comum ele foi visitá-la e viu que ela estava deitada em um sono profundo.

Ele ficou horas e horas observando e ela não acordava,então ele lembrou da velha historia que só um beijo de amor verdadeiro poderia acorda-la.

E assim sem pensar duas vezes ele foi chamar o príncipe que não morava muito longe.

Por sorte o príncipe estava no jardim do palácio e assim que o coelho o viu saiu correndo daquele jeito que os coelhos sabem correr.

Quando finalmente ele chegou lá ele cutucou o príncipe.

Ele não percebeu, então cutucou mais uma vez e mais uma até que a unica solução que ele achou foi roubar sua coroa e acredite  pode ser que os coelhos não saibam correr mas pular era sua especialidade!

Assim  foi correndo com a coroa e claro, o príncipe foi atrás e os dois foram até onde a linda moça estava.

Assim que o principe  a viu ficou encantado,não sei se você acredita mas aquilo foi realmente amor tanto que assim que ele a beijou a moça acordou.E eu nem preciso dizer que eles viveram felizes para sempre e o coelho também.

 

Bebel

A Rua Giacomo Puccini

A rua era  pequena, apenas um quarteirão. Lá moravam: Dr. Luizinho, que não era doutor. Tinha na esquina sua farmácia, onde passava os dias atendendo e estudando para quem sabe um dia, vir a ser doutor de verdade.

— Seis casas, encostadas e interligadas pertenciam a mesma família. Todos irmãos. Todos “buona gente”. Nas casas dos irmãos vizinhos, era uma barafunda entre eles sempre gritando. Brigavam e faziam as pazes em alto som, rindo e chorando como bons italianos.

— Duas casas também pertenciam a duas famílias os “nonos”, os “zios” e os primos.

— Outras quatro ou cinco pertenciam a famílias independentes. Além disso havia alguns terrenos vazios. Uma dessas famílias, a do Dr. Argemiro, que não tendo filhos adotou um sobrinho que, por não ter conseguido entrar na faculdade, era obrigado a usar  um burrico pendurado no pescoço. Ele adorava o penduricalho, não considerava um castigo.

— Seu Vassorinha, sua mulher e os filhos,  eram divertidos, mas não repartiam com os vizinhos  as alegrias familiares.

— Havia uma família que por ser hoje diríamos  (gourmands ou gourmets) eram bem gordos. Eram os únicos estrangeiros  (para os vizinhos) uma vez que todos os outros eram “oriundi”! Eram Sr. Fritz Gordo, Dona Frida Gorda e Lu Gorda! Alemães, claro.

Bem, todos vizinhos se conheciam, mas era apenas  “bom giorno” … “boa noite”. E não passava disso. Um ciau e no máximo um sorriso. Não tinham convivência, viviam isolados cada um no seu mundinho.

Mas…Numa certa manhã apareceu na rua um cachorro vira lata até a alma, e a alma de um vira lata é o máximo. Nunca exige nada apenas quer amar e ser amado! Estava bem acabado. Machucado, sujo e cheio de pulgas. Porém era de uma simpatia contagiante, que acabou por conquistar  toda a vizinhança.

Como todos queriam adotar o cão, acabaram por conversar e resolveram fazer uma reunião para decidir o que fazer com ele.

Como vamos chamá-lo?

Reuniões algumas noites para escolher o nome, que viria a ser TANTAN. E que TANTAN decidiria com quem ficar.  Tratado e recuperado, ele escolheu, ser de todos uma vez que andava pelo quarteirão acima e abaixo durante toda noite. Durante o dia dormia embaixo da árvore numa sombrinha gostosa.

– E o que fez TANTAN?

                Dr. Luizinho ficou praticamente o médico de toda a italianada até dos alemães. TANTAN também era seu cliente.

Naquele tempo não havia ladrões, apenas larápios que entravam nas casas para roubar uma galinha ou alguma peça de roupa dos varais.

Mas, na Rua Giacomo Puccini jamais houve um roubo, pois todos os malandros sabiam da ferocidade de TANTAN, o guarda noturno.

Ele era muito engraçado pois tinha lá suas  preferências. Gostava muito de braciolla, mas não comia carne moída. ( Carne moída, devia pensar ele, nem morto). Arroz e feijão algumas vezes.  Gostava é de melancia, vai saber.

Agora, sábado, depois da chegada do TANTAN, a vizinhança se reunia. Era dia de churrasco. Ele era o primeiro a chegar, parece que sabia que era sábado. Amanhecia  na porta do Sr. Fritz Gordo e lá ficava.  Aprendeu até a tomar cerveja. Antigamente cachorro não comia ração, mas sim o que as pessoas da casa comiam

Só ia lá aos sábados, porque penso que não gostava de comida alemã.

Envelheceram juntos, TANTAN e os  amigos da rua. Mas amizade a alegria e o amor que ele trouxe jamais serão esquecidos pelos que  foram premiados com a oportunidade de com ele conviver.  Aquela dinâmica diferente, daquela  rua tão especial:

A Rua Giacomo Puccini.

O LIVRO

Em todo lugar que  ele ia levava o livro. Não era um livro qualquer  era aquele, sempre o mesmo. Na sala de espera do médico lá estava ele lendo o livro. No avião nas viagens curtas e longas, sempre o livro presente.

Nas férias, podia esquecer a mulher em casa, mas não esquecia o livro.

Era um livro diferente.

A começar pelo autor: Giovanni Takaoka Smith Von Bratner Martines da Silva. A gente pensava: – será italiano, ou japonês, americano ou alemão? Mas tem também o Martines… deve ser espanhol… e o da Silva? Deve ser português!

O mistério aumentava quando se lia o nome do livro: OH OH? Mas que pode significar OH?

Ele não mostrava o livro para ninguém. Quando alguém perguntava sobre o livro dizia: —  eu acho que hoje vai chover. Quando insistiam muito, ele falava: — versa sobre as taipas do furor sarilho.

Guardava o livro numa capa de veludo, ficava na sua cabeceira.

Um dia o livro sumiu.  Gritou com sua mulher aonde estava o livro. A mulher respondeu – coloquei na prateleira, junto com os outros livros.

— Como assim? Meu livro junto com outros livros? Não sabe o que ele significa para mim? Ficou sem falar com a mulher o resto do dia.

Para que ninguém se atrevesse abrir o livro, colocou um filme de plástico, igual ao que se usa para alimentos.

Quando ia ler o livro tirava o plástico. Quando terminava, outro plástico. Esta postura, logo despertou a curiosidade de todos. Dizia sua mulher: — Deve ser seu diário, onde ele anotou tudo que aprontou na vida.

Sua filha mais velha tinha outra versão: — são poesias que escreveu para suas namoradas, e o nome do autor, foi um pseudônimo – que ele criou. Seu genro, achava que ele devia ser um nobre e que o livro seria a estória de sua família, que ele jamais conhecera, pois sua mãe, desobedecendo a família, se casara com um pé de chinelo sem eira  nem beira e isso o deixava muito mal, e pensava: — sou meio nobre e meio nadica de nada, mas não queria que ninguém soubesse que ele era o que era. Por isso o mistério!

No trabalho não era diferente. Todo dia ele levava o livro, punha em cima de sua mesa. A secretária dizia: — deve ser um livro de auto ajuda de onde ele tira aquelas regrinhas que ele fala todo dia.

Um dia na casa dele rolou uma vasta feijoada. O primo do Rio veio. A tia  Lili trouxe os dois filhos, e suas namoradas, claro, o Afonso, interesseiro, nunca telefonava para saber se estavam bem, soube  da feijoada, e veio. A filha por sua vez convidou duas amigas da faculdade, e é claro os namorados.

Enfim, a casa estava cheia, de cara rolou uma batida de côco, que estava uma delícia. Antes da feijoada propriamente dita, serviram uns torresminhos, umas batatinhas fritas. Todo mundo foi então para o canto das caipirinhas. Tinha de tudo: de limão, de frutas vermelhas, lima da pérsia e de tangerina, esta não sei  porque, foi a predileta. O anfitrião, dono do livro, experimentou todas. Quando a feijoada finalmente foi servida aconteceu o inevitável, ele deitou no sofá e apagou. Dormia tão profundamente que nem ouviu a tia Carminha cantar (sorte dele). Nem tomou conhecimento quando o baile começou com música altíssima, que se  ouvia da rua.

Foi então que alguém sugeriu: — vamos ver de que se trata o livro? Animados, descontraídos pelo álcool resolveram desvendar o mistério, apesar dos protestos de sua mulher. Tiraram a capa de veludo, o plástico de proteção e abriram o livro. Para surpresa geral, era a Bíblia, com algumas frases sublinhadas: “amai-vos uns aos outros, como eu os amei”. “Não julgueis para não seres julgados”, “o reino de Deus…

Colocaram o livro de volta direitinho no lugar onde estava.

Desse dia em diante, ele passou a ser mais respeitado e admirado.

DONA NENÊ

Morava numa vila, ali na periferia de São Paulo. Lá todos se conheciam pois era um lugar bem pequeno. Pessoas simples, boas, que se interessavam umas pelas outras.

Depois que Dona Nenê enviuvou, andava meio tristonha, e a conselho de sua filha, procurou um doutor.

Disse-lhe ele: – Andar Dona Nenê, a senhora precisa andar, pois isso seria muito bom. Para tudo. Colesterol, triglicérides, coração, circulação, pulmão, ossos e também para a cabeça.

Ela pensou e disse:   ̶ Mas doutor, onde moro é ladeira e a rua é de terra, se chove tem barro e se não chove é uma poeira lascada.

̶ Vá ao Parque  Ibirapuera, e procurando na internet deu-lhe o número dos 2 ônibus e o metrô que deveria pegar para lá chegar.

Na vila perguntaram-lhe o que o médico dissera,mas como ela não lembrava todos os benefícios que andar lhe fariam, disse aos vizinhos que precisava andar por conta da cabeça.

Cabeça? Reunião de vizinhos preocupadíssimos com a cabeça de Dona Nenê. Seu Zé, ajudante do açougueiro do mercadinho pensou e disse: – miolos, são os miolos com certeza. Já seu Bigode que trabalhava como ajudante de mecânico lá da esquina, sentenciou:-  ah! Isso é coisa de parafuso, deve ser um parafuso. Nalda que tinha ali mesmo seu salão de beleza com autoridade declarou: – isso é coisa da progressiva,  pois é muita química, veneno puro, e  sabe, enquanto o falecido vivia ela fazia sempre. Aquilo destrói o miolo. A mãe do Sr. Zé era benzedeira e fazia lá suas rezas, dizia que era ocultismo. Foram consultá-la e o diagnóstico não foi nada favorável: — coisa feita! Do demo. Isso não tem jeito.

Bem e assim o assunto da vila era a cabeça da Dona Nenê. A filha diziam outros, nariz em pé, granfina quer que a mãe morra para ficar com a casa!

5:30 da manhã, Dona Nenê saia de casa para tomar as conduções que a levavam ao Ibirapuera. Com sua sacolinha  um lanche para o almoço e a garrafa de plástico com água, que ela enchia lá no Parque mesmo. Andava, andava. Apesar de no começo achar aquilo uma chatice, foi se acostumando.

Na vila, os que saiam cedo, espiavam Dona Nenê sair com sua sacolinha. Era aquela falação. Nossa. Nossa!

Nova reunião de vizinhos:

̶  Antes, quando seu Severino vivia, era uma mulher de respeito. Séria. Muito direita mais agora segundo os homens, ela tinha arranjado um amante.

Bem com certeza concordaram todos, Dona Nenê, andava bem alegrinha. Nalda a cabeleireira interveio e disse: ̶ gente! Eu pessoalmente acredito que ela anda pedindo esmola! Sai daquele jeito de manhã, todo dia mar arrumada. Na missa do domingo, é um luxo só!

Bem, Sr. Pedro o mais idoso e também o primeiro morador da vila, que pouco falava, resolveu por si só descobrir o segredo de Dona Nenê. Uma vez que praticamente todas as pessoas da vila estavam com problemas, algumas curiosas, outras até com medo de Dona Nenê, o resto da vila à beira de um ataque de nervos, tal estresse   que estavam vivendo.

Ele perguntou, e ela respondeu: — já que todos estão preocupados, domingo próximo posso acabar com toda essa encrenca.

7:00 de domingo, quase toda vila se juntou à Dona Nenê. Queriam saber o que ela fazia todos os dias que a deixava tão diferente, tão mais feliz.

Ah! Surpresa!

Caminhava todos os dias no Parque Ibirapuera

DOR DE BARRIGA

Quem  nunca teve uma dor de barriga levante a mão. Ela é manhosa, traiçoeira, aparece quando quer, sem compromisso, sem aviso, sem cerimônia.

Como aquele apaixonado que dando o anel para sua amada, no pedido de casamento, saiu em disparada. A noiva ficou paralisada,   sem saber o que estava acontecendo.

Será que ele desistiu? Só quando ele voltou, com a cara de alivio, foi que ela entendeu.

E o caso do alpinista que  estava subindo a montanha de neve, pela cadeirinha pendurado num fio quando sem avisar, ela apareceu. Ele sentiu que não daria tempo de chegar ao fim da linha. Pronto resolveu lá mesmo. Azar da  neve.

Na entrevista para emprego, ela notou que estava agradando, quando de repente falou:  ̶ vou dar uma saidinha e já volto. Conclusão perdeu o emprego.

Um grupo de jovens vinham passando por uma avenida movimentada, fazendo aquela algazarra que só os jovens sabem fazer, quando um deles pediu: — Pára já o carro estou necessitando. Os amigos percebendo a situação,começaram a zoar.  ̶  Deixa de manha. Seja homem. Segura mais um pouco. E ele dizia, pára, pára, pediu com tanta aflição que os amigos resolveram parar. Ele correu até uma palmeirinha no canteiro central da avenida e foi ali mesmo. Os amigos saíram do carro e começaram a parar os outros carros que passavam, e mostravam a cena, com grandes risadas, e arruaças.

O marido tinha a mania de ficar lendo no banheiro, de repente a mulher sentiu aquela pontada característica na barriga, bateu na porta do banheiro, mas sentindo que o marido demorava para abrir a porta, viu um saco plástico ali de jeito, e pensou vai ser aqui mesmo. E foi.

Quando ela passou na catraca da portaria,no prédio em que trabalhava, ela sentiu aquele aviso fatal. Pensou: — ainda bem que só tem 3 pessoas na fila do elevador. Apertou o 20. Uma apertou o 6 a outra o 13 e o último o 14. A dor estava apertando quando a moça do 6 desceu. A do 13 quando foi descer ainda fez charminho para o rapaz do 14. Segurou um pouco a porta e sorriu. No 14 o rapaz desceu. Ela pensou ainda bem, não tem mais ninguém. Engano. Tinha uma firma que ocupava três andares o 15, 16 e o 17. No quinze entraram mais duas, uma desceu no 16 e a outra no 17. Esta última chegou a perguntar se ela estava se sentido bem. Quando finalmente chegou ao 20 deu de cara com a sala da diretoria aberta. Pensou: — vai ser aqui mesmo.

Dor de barriga é ruim, mas é bom. Serve para limpar os intestinos, como diziam os antigos, e depois que passa, dá um alívio…