Arquivos mensais: abril 2019

O Politico

Maria era uma moça muito simples. Nascida e criada na roça. Costumava dizer que não tinha “ nem leitura e nem escrita “

Tinha irmãos, que se consideravam melhores que ela, pois sabiam ler e escrever.

Mas…Maria tinha um dom, que a fazia ser importante no pequeno povoado em que vivia. Ela benzia tudo!

Dor de cabeça, quebrante, dor de barriga, lombriga, inveja, enfim, desde os bebês até os mais idosos, todos sempre a procuravam para alguma dor, pois ela além de benzer  também ouvia com atenção à todos, que naturalmente a queriam bem. Com isso sempre ganhava presentinhos, que gostava de distribuir paras crianças do povoado.

Um dia, próximo das eleições, eis que chega Dr. X, causando um grande alvoroço! Pois não estavam acostumados à celebridades.

Dr. X, ao descer do pequeno carro de som, deu um mau jeito no quadril.

Vieram as autoridades da saúde. O Prefeito, que era farmacêutico e um médico, que era idoso, havia escolhido morar num lugar bem calmo, depois de uma vida muito atribulada na cidade grande.  Atendia a população como voluntário. Todos logo disseram: “ melhor chamar a Maria”

Os companheiros de Dr. X, quiseram saber quem era Drª Maria.

A Drª?  A” não, ela só reza!”

Bem se não tem outro remédio, foram buscar Dona Maria. Foram todos à casa dela, e bateram a porta.

“ Entra! “

“ É aqui que mora a Maria, a benzedeira? ”

Moço, aqui não tem benzedeira, só a Maria que reza.

Ah! Está bem, nós precisamos que ela venha fazer uma benzedura no Dr. X

BENZEDURA???

O Senhor me desculpe, mas aqui não tem ninguém que faz benzedura.

Mas, não é a casa da dona Maria?

Ufa!”

Bem, depois de muita conversa, ela meia a contragosto foi.

“ Bom dia, é o senhor que está com dor nos quarto?

Nos quarto? não, é quadris.

Ué e onde é isso?

Aqui.

Tá bom, então vou rezar.

“Mas a senhora não vai benzer?”

“Não, eu só rezo, é Jesus mais Nossa Senhora que consertam tudo. Eu só rezo, já disse”

“Verdade? Eu não acredito!”

“Ah! Não acredita? Então não vai sarar, porque tem precisão de acreditar.

Dai, nem vou rezar.”

Os companheiros se desesperaram, mas Maria estava irredutível.

“Por favor!”

“Não rezo, porque ele não acredita e daí nem vou perder tempo. ”

Foi embora.

A caravana partiu!

Claro com Dr. X., com muita dor.

 

Tai, gostei. Ela foi coerente em sua simplicidade. A história me fez lembrar quando na infância, eu ia semanalmente visitar Dona Joaquina, que além de me benzer, segundo minha mãe dizia, me deixava mais calma. Também me dava docinhos como a Maria rezadeira.