Arquivos mensais: janeiro 2024

O Vice Deus

Acabo de ler no livro Homo-Sapiense de Y.N. Harari, que o homem há 70 mil anos era um animal sem qualquer expressão no Planeta.

 

E 70 mil anos, em se tratando de idade geológica é praticamente ontem.

 

Mas é inegável que de lá para cá, o Homo-Sapiense teve uma evolução fantástica que está acontecendo ainda hoje com uma velocidade exponencial.

 

Aprendemos a fissurar o átomo, a modificar a molécula de sementes de alimentos, para aumentar a produtividade.

 

Construímos cidades, habitações, um comércio mundial, meios de transporte espetaculares, trem, automóveis, navios, aviões foguetes.

Criamos músicas que chegam na alma.

 

Estivemos na Lua e estamos explorando, cada vez mais o espaço sideral.

 

Por outro lado, destruímos cada vez mais ou meio ambiente. Exterminamos espécies animais, criamos outras, queimamos florestas, bloqueamos rios, estamos derretendo as geleiras.

 

Estamos nos reproduzindo a uma velocidade incrível. Hoje somos quase 8 bilhões de seres humanos.

Escrevemos livros sublimes, bíblias

 

A pergunta que se faz: para onde vamos indo? Até quando o Homo-Sapiense pensa que é vice Deus?

 

Ou tomamos juízo ou…mas contamos com a Providência divina e a capacidade do homem de superar problemas.

 

Vamos em frente.

Antonia

Bem na esquina morava Dona Antônia. Na Cidade todo mundo a conhecia. Implicava com tudo, com os moleques que jogavam futebol na rua, com os carros que passavam em velocidade.

Sua vítima mais constante era o jornaleiro Toninho, que tinha uma banca um pouco mais para lá.

Ela tentou, porque tentou tirar o jornaleiro de lá: Foi até falar com o Prefeito. Ela dizia: “ele ocupa toda calçada, não dá para passar ninguém, e a sujeira que ele faz! Fuma como uma chaminé e a fumaça entra pela minha janela. ”. Não sei como porque, a janela dela estava sempre fechada.

A única criatura que a aturava Dona Antônia era o cachorrinho vira lata que vivia com ela.

Dava broncas terríveis nele. Parece que ele nem ligava. Permanecia estático, olhando para frente com a cara de paisagem.

A calçada em frente à casa de Dona Antônia, era mais limpa da Cidade.

De madrugada era comum vê-la esfregando com um escovão, e sabão de pedra, e aí é que estava o problema. Se alguém passasse com o sapato sujo, deixando suas marcas, essa mulher entrava em transe.

Gritava, xingava, a coisa mais bonita que falava era:  “ seu porco de M. vai pro chiqueiro. ”

Quando passavam as adolescentes e cuspiam um chiclete, para desgrudar ela ficava de joelhos na calçada, raspando até que tirasse tudo.

Quase na outra esquina veio morar uma moça do interior. Tininha era o nome dela.

Quando chegou na rua não acreditou que pudesse existir pessoa tão mau humorada. Pensou, vou dobrar essa mulher.

Fez um bolo e mandou um pedaço para Dona Antônia, ela experimentou e disse: “tá embatumado. “

Tininha não desistiu. Fez brigadeiro e mandou um pratinho.

Dona Antônia provou e disse: “ O gosto é bom, mas não está no ponto. ”

Que progresso pensou Tininha, pelo menos o gosto estava bom.

Acontece que Tininha estava grávida, e mais algumas semanas nasceram as gêmeas. Dona Antônia ficou sabendo e teve curiosidade de ver as meninas.

A primeira vez que Tininha saiu de casa com as bebês, num carrinho duplo, Dona Antônia não se aguentou e veio ver as crianças.

Deu risadinha, incrível, nunca se tinha visto isso.

Todos os dias pela manhã, quando Tininha ia passear com as nenês, Dona Antônia descia. Uma das vezes trouxe um par de meinhas e uma touca, para cada uma delas, de crochê, que ela mesma fizera.

Com o passar dos dias, Tininha percebeu que Dona Antônia era uma pessoa carente, nunca se casara, nunca tivera filhos.

Depois disso aos poucos, ela foi amolecendo. Todos os dias, depois do almoço levava cafezinho pro Toninho joalheiro, antes seu inimigo mortal.

Quando encontrava as crianças, estendia os braços para elas e dizia: “ vem com a vovó. ”

Ficou muito amiga de Tininha, que por ser do Interior, não tinha com quem deixar as crianças quando saia. Dona Antônia, então se sentia a mais feliz das criaturas.

Nota do Autor: Este é um conto de ficção, a única coisa verdadeira é o personagem Tininha que é do livro “ mulheres reciclando a alma. ”

 

 

 

 

 

 

 

 

Destino

Vida, vento, velas, pra onde me levas? (Raimundo Nonato). Deixa a vida me levar, vida leva eu (Zeca Pagodinho).

 

Os espíritas dizem: “Estamos aqui para cumprir nossa missão”. E eu pergunto: “Existe Destino”? Cada um de nós quando nasce, tem um destino marcado? E aonde fica livre arbítrio do ser humano?

 

Quantas pessoas procuram uma cartomante para saber seu Destino. Terá alguma base lógica?

 

Ninguém pode negar que algumas coisas são traçadas. Porque eu nasci aqui neste lugar, porque pertenço a esta família, porque fui escolhido para ser filho, desse pai e dessa mãe, porque tenho esses irmãos?

 

Então, poderíamos dizer que, a nossa partida foi escolha o Destino. Bem, daí em diante, nós podemos interagir?

 

Podemos dizer que nenhum ser humano é totalmente livre?

 

Todos nascemos com uma carga genética, que não podemos renunciar. Ela está lá. São o fruto dos nossos antepassados. Sem dúvida vai nos orientar pela vida.

 

Nas religiões o Destino é determinado pela Divindade. Existem fatos, fatalidade, que temos que passar?

 

Alheio a nossa vontade, temos ações vitais executadas por nosso organismo: como batimentos cardíaco, circulação sanguínea, respiração, etc. De certa forma é impossível escapar desse Destino.

 

Desde o nosso nascimento, quando viemos ao mundo, em todo momento, é o nosso Destino evoluir, aprender, contestar. Nos tornarmos jovens, maduros, velhos e depois morrermos. Disso ninguém pode fugir, essa etapa final do Destino também é imposto.

 

Conhecer a si mesmo é crucial, é mutável pelas circunstâncias. Não podemos mudar as coisas, mas sim nossa relação com ela, e a maneira de vive-las.

 

Nosso livre arbítrio, então é relativo. “ Vida, vento, velas, pra onde me levas”?