O Menino da Porteira

Tudo começou com a maravilhosa composição de Teddy Vieira e Luiz Raimundo, depois eternizada pelo cantor Sérgio Reis, do “ Menino da Porteira. “

 

Confesso que minha avó, Dona Feliciana era a única parteira da cidadezinha onde eu morava de nome “ Bela Estrada” em Minas.

 

Não havia ninguém, que tivesse nascido lá, que não fosse pelas mãos de Dona Feliciana. Havia aprendido com sua mãe dona Sebastiana, desde pequena a ser parteira, como sua mãe.

 

Magrinha, de mãos delicadas e olhar profundo, nada escapava de sua visão.

 

Era adorada no lugar. Todos os dias me levava a escola no pré-primário e depois no primário.

 

Todos diziam: “ Lá vai o menino da parteira”, de gozação, claro.

 

Quando eu aprontava alguma na escola, não fazia a lição, ou participasse de uma bagunça na classe, quem era chamada? A vó Feliciana.

 

Na cidade, ninguém me chamava por João Caetano, que é o meu nome, mas por                “menino da parteira. “

 

Quando comecei, o secundário já ia sozinho para escola, mas no caminho todos ainda insistiam: Lá vai o “menino da parteira” e davam risada.

 

Foi assim até que eu comecei o colegial. Quando enfim terminei, ficou uma grande dúvida na minha cabeça. “ Que carreira vou seguir? “ Aliás como acontece com quase todos os jovens.

 

Uma noite sonhei com vó Feliciana que ainda era viva, só que em outra dimensão. No sonho ela me dizia para ser médico. Virar parteiro e manter a tradição da família.

 

Aquilo ficou na minha cabeça. Médico? Logo eu? Prefiro ser jogador de futebol.

 

O tempo foi passando e o sonho martelando minha cabeça. Um dia apareceram lá em casa, Três meninas gêmeas, adolescentes, que tinham vindo ao mundo, pelas mãos de vó Feliciana, pensei é mais um aviso.

 

Gostei de uma delas, a mais sorridente e rolou um namorico.

 

Comecei a pensar como seria bom, viver em Belo Horizonte. Poderia ir à cinemas, lanchonetes, quem sabe conhecer alguém, ir a baladas, festas.  Mas antes teria que estudar. Pensei, “ agora chegou a hora. Tenho que decidir, jogador de futebol já vi que não daria.

 

Pensei “ será que estou preparado para enfrentar um vestibular? “

Me lembrei que lá na minha terra, eu tinha feito um bom curso. Graças a minha vó Feliciana, as professoras sempre tiveram por mim, um carinho todo especial, um atendimento diferenciado.

 

No dia de escolher o curso, passei uma noite agitada. Quase não conseguir dormir. Levantei durante a madrugada liguei a TV, e aí aconteceu uma coisa surpreendente: apareceu o Sérgio Reis cantando o “ menino da porteira. ”

 

Pronto, recebi o recado, no dia seguinte me escrevi para o curso de medicina.

 

Prestei vestibular e entrei agradecida a Deus pelas professoras que tive.

 

O curso não foi fácil. Exigiu muito trabalho, empenho, sacrifícios.

 

Formado, comecei a trabalhar em Belo Horizonte. Residência e ambulatório.

 

Depois de um ano, senti vontade de fazer uma visita à minha terra.

 

Lá chegando, fui recebido com carinho que só as pessoas das pequenas Cidades costumam dar. Vieram pessoas que minha avó ajudou a nascer, antigas professoras, amigos de infância. Foi aí que eu pensei: meu lugar é aqui.

 

Larguei meu trabalho em Belo Horizonte e vim transferido para o posto de saúde daqui, onde faço tudo, inclusive parto. Voltei a ser o “ menino da parteira”.

 

Continuo apaixonado por uma das gêmeas. Acho que até o fim do ano, vamos casar.

 

E aí começar tudo de novo.

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