A Vida

Ficaram amigos. Todos moleques no primeiro ano da Faculdade de engenharia de uma Cidade do interior. Éram em dez: o Nenê, o Galã, o Prancha, o Baixote, o Limeira, o Barba, o Naldo de Pocinhos, o Velho, o CDF e o Jau.

 

Moravam na Estância, um hotel, um pouco afastado da cidade. Para todos era a primeira experiência fora de casa.

 

Tinham aula de manhã e à tarde. Quando voltavam ao hotel jogavam futebol até não enxergar mais a bola.

 

Cada um tinha lá as suas características. Um alegre, outro irresponsável, outro meio sério, não gostava de gozações, outro brigão, um CDF que só pensava em estudar…

 

No começo se estranharam, vivendo cada um à sua maneira, mas sempre juntos e felizes, com aquela alegria típica da juventude. Aos poucos se uniram e formaram como uma grande família.

 

O CDF não gostava de dividir o quarto com outro estudante. Foi para um quarto sozinho. Gostava de silêncio e de tudo arrumadinho. Com uns caixotes que achou no hotel, construiu uma escrivaninha e uma estante.  Se organizou numa espécie de escritório. Este lugar era muito frequentado pelos colegas do hotel na véspera de provas ou na entrega de algum trabalho. Funcionava como uma central de dúvidas.

 

O Prancha era um garoto muito sensível, por qualquer coisa chorava. Às vezes sozinho no quarto, lembrava da mãe e lá vinham as lagrimas.

 

O Nenê era um intelectual, sempre com um livro na mão (não de engenharia), discutia com profundidade qualquer assunto. Conhecia a história das civilizações, geografia então? Sabia tudo de cada país

 

O Limeira, adorava, contar causos como todo garoto do interior. Era engraçado e extremamente educado, jamais falava um palavrão

 

O velho ficava na dele, nunca descia para Cidade com os outros, para tomar umas cervejas, cantar e dar risadas.

 

O Jau era o único que tinha carro, uma picape meio baleada, mais pelo descuido do que pela idade do carro. Era o meio de transporte para as noitadas.

 

As meninas da cidade logo ficaram com um pé atrás com aquele bando de moleques, que só pensavam em brincadeiras e farras, e que logo que se formassem iriam dar o fora da Cidade.

 

Isto não impediu que um ou outro arranjasse uma namorada, especialmente o Galã que tinha um charme e uma beleza que as garotas não resistiam.

 

O CDF se permitia tocar violão de vez em quando. (Tocava mal) não o seu, pois não possuía, mas o do Naldo de Pocinhos.  Como se achava feio, compôs uma música apaixonada para uma namorada que eventualmente ele arranjasse. A música era sempre a mesma, só mudava o nome da amada de plantão. Essa tática às vezes dava certo.

 

O Galã não podia nem tomar uma cerveja que já ficava completamente embriagado (ou mais claro, bêbedo). Virava um brigão, procurava pessoas para se meter em encrenca, discutia com os colegas. O grupo tinha sempre que  salvá-lo e acalmá-lo.

 

O Barba, namorador por excelência, começou a paquerar uma menina, bonitinha que era nada mais, nada menos do que a filha do Prefeito, o homem mais rico da cidade (como sempre)

 

Pensou então “ como faço para conquista-la? “Lembrou-se da música que o CDF tinha composto para suas namoradas Era só trocar o nome e pronto. Deu certo, conquistou a menina, namoraram e acabaram se casando. Moram até hoje na cidade

 

 

Mas o que foi feito na vida de cada um deles?

 

Nenê que era de uma família de juristas ilustres, largou a engenharia e formou-se em Direito, hoje é Desembargador.

 

O Galâ formou-se em engenharia e virou Professor Universitário no Paraná. Dizem que até hoje encanta as alunas.

 

O Prancha que era de origem árabe, montou uma construtora e ficou muito rico

 

O Baixote desistiu da escola logo no primeiro ano, nunca mais se ouviu falar dele.

 

O Limeira formou-se em engenharia, fez especialização na área da agricultura, hoje é um grande produtor de laranjas na sua terra.

 

O Velho que era assim chamado, porque tinha uns cinco anos a mais que a turma, seguiu carreira no Jornalismo, com grande sucesso.

 

O Barba já foi dito, casou com a filha do Prefeito e mora na cidade. Como pertence a sociedade local, é muito considerado como engenheiro.

 

O Naldo de Pocinhos, que tocava violão, virou empresário de obras públicas e ficou muito bem de vida.

 

Ainda toca violão, mas só as músicas antigas. Se recusa tocar músicas atuais

 

O Jau foi tomar conta da fazenda da família. Chegou a se formar, mas nunca exerceu a profissão.

 

O CDF casou-se e teve quatro filhas e dez netos. Trabalha até hoje.  Ainda é criticado pelas filhas por causa da canção que compôs e que serviu para sua mãe se apaixonar por ele.

 

Nunca mais se encontraram.

 

Só ficaram as lembranças.

 

Assim é a vida