Um conto de Natal

As amigas diziam que era uma grande bobagem, afinal, passar uma noite de Natal com a família não deveria ser motivo de preocupação. Que nada. Quando começava a se aproximar o final do ano, ela já começava a se perguntar: quanto tempo ainda tenho para arranjar um namorado?

Não era por carência, a vida dela, ainda que algumas vezes solitária, era até que bem feliz. Não é que ela nunca tivesse ninguém. Homens interessantes e interessados apareciam, alguns namoricos engatavam, o problema é que nunca se firmavam. Alguns até duravam meses, mas nunca chegavam até as festas de fim de ano – período crítico para as pessoas que estão sós.

No Natal era quando a sua família se reunia, todos felizes – ou aparentemente felizes – por se reencontrarem. Era a noite de saber das novidades do ano que se passou. As primas eram todas casadas, e a cada ano, um novo bebê era apresentado. Que fofo, não é a cara do pai? Todas tinham muitos filhos. E todas tinham seus maridos – pelo menos até então – enquanto ela nunca chegou a apresentar um namorado. Até a sobrinha, que ainda ontem era uma criança, no último Natal chegou acompanhada,  e pelo que a mãe dela falava, o namoro seguia firme.

As tias, sem perceber o constrangimento que a pergunta trazia, já chegavam com um sorriso. “Linda, e os namorados?” Nesse momento, um misto de embaraço, tristeza e sentimento de incompetência a dominava. Lamentar publicamente a situação, nem pensar. O jeito era sorrir e disfarçar.

Nesse ano, ela já havia se preparado para enfrentar novamente aquele ritual. Não existia o movimento dos sem-terra? Ela poderia fundar o movimento dos sem-filhos, pensou divertida. Resignada, tinha acabado de passar o batom – sempre seu último preparativo antes de sair de casa- quando a campainha tocou. Quem seria? Abriu a porta. Deu de cara com um homem alto, lindo, de cabelos escuros, olhos verdes, muito bem vestido e sorrindo para ela. Vamos?

Sem entender nada, mas querendo muito acreditar que aquilo estivesse realmente acontecendo, ela apenas respondeu: vou pegar as chaves do carro. No caminho ele falou amenidades. “Será que seu tio vai gostar desse vinho?” Sim, para completar ele havia trazido um presente para o anfitrião. “Sabe que esta é uma ótima safra?” . Parecia que o homem perfeito tinha se materializado.

Ela não ousava questionar: mas quem é você afinal? A única pergunta que teve coragem de fazer foi perguntar o nome dele. Gabriel.

Foram recebidos pela família com muitos sorrisos e abraços – como sempre acontecia. A diferença é que havia uma certa eletricidade diferente no ar. Todos pareciam encantados com o charme e a simpatia do Gabriel. Uma prima não se conteve e revirando os olhos comentou: “ Prima, que guapo, parabéns!”.

A noite foi perfeita, como um sonho. Gabriel estava carinhoso com ela, como os homens apaixonados geralmente são. Mexia no seu cabelo, falava baixinho no seu ouvido, ria muito e lhe servia vinho – que o seu tio adorou. “Esse é dos bons!”.

Fim de festa, todos se despediram e os olhares entre os familiares eram de total aprovação.  Entraram no carro e mais uma vez ela não ousou perguntar nada. Chegaram na casa dela, Gabriel deu-lhe um longo beijo e falou: tenha uma feliz noite de Natal. E sorrindo, partiu.

Até hoje ela se pergunta como aquilo aconteceu. Depois de imaginar milhões de teorias, desistiu de tentar entender.  Ah, que diferença faz? Tinha sido tão bom!

Deve ter sido a tal magia do Natal.

 

 

 

 

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