O Rei

Desde pequeno ele tinha um sonho. -Um dia ainda vou ser rei. Pensava: rei da Inglaterra com aquela coroa pesada cheia de brilhantes, com aquela capa com pele de coelho nas beiradas ou quem sabe rei da Espanha, mais fácil, ou rei da Dinamarca. Ai ele pensou deve ser difícil aprender a língua, melhor não.  Vado vivia sonhando, Vado não, Vadão, como os meninos da rua o chamavam. Também quem mandou ser  mais alto e mais gordinho que todos, era Vadão, Vadão, Vadão. Ele não ligava, somente sorria. Um dia pensou, quem sabe um pais africano. Pegou um atlas foi vendo os nomes, de repente encontrou Sudão, então pensou Vadão o rei  do Sudão, gostou, sorriu, já se imaginava com um gorro africano na cabeça, cheio de pingentes, saia escocesa, barriga para ser rei ele tinha. Na escola quando tirava nota  baixa no boletim vinha aquela bronca da mãe. Ele dizia: Mãe eu um dia ainda vou seu rei. Os amigos sabendo da estória, ficavam caçoando: Vadão o rei da gozação, ele sorria, não ligava. Quando enfim ele completou o colegial e  teve que escolher uma carreira, não teve dúvida, vai ser administração. Já imaginou Vadão o rei da administração. Já se via, sentado na cadeira de Presidente, com dezenas de  auxiliares perto… e claro, uma secretária gata. Outras vezes pensava, vou montar uma padaria serei Vadão o rei do pão. Mas nem descendente de  portugueses eu sou. De família italiana, melhor uma fábrica de massas, Vadão o rei do macarrão. Até que chegou a festa  de formatura, beca, chapéu e diploma na mão, lá se foi o Vadão. Como estava difícil um emprego para recém formado, pensou: para quebrar o galho vou começar fazendo uns carretos com minha camionete, e para  não perder a mania escreveu nas duas portas; Vadão o rei do furgão, e continuou à sorrir e a sonhar.

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