Italiana, daquelas que nunca perdeu o sotaque. 50 anos de Brasil. Nunca quis ser chamada de avó ou vó. Tinha que ser nona.
Chamava as netas de bambina, a massa de pasta e amor para ela era amore.
Casou-se jovem, claro que com um italiano. Tiveram uma filha e viveram felizes por um bom tempo, até que ele partiu. Dramática como só os italianos sabem ser, chorou, chorou, chorou. Até que um dia parou de chorar e pensou: Vou aproveitar la vita. Como? Indo para La Bella Itália. E assim foi. Anos e anos a fio, idas e vindas.
Como tinha sido alpinista na juventude, um amigo presenteou-a com um belo quadro (pintado por ele) representando a montanha com neve etc…etc., Ela adorava o quadro. Pendurou no melhor lugar de sua sala. Quem a fosse visitar, seria impossível não vê-lo, tinha que ouvir toda a história do quadro.
Seu genro, que gostava muito de brincar com ela, vivia dizendo: bela obra de arte, mas se ela lhe desse o quadro e mais mil reais, ele não aceitaria, talvez o quadro e mais dez mil reais, ele iria pensar no caso. Ela sempre ríspida respondia: Questo quadro non tem preço. Sabia que era gozação, mas ficava irritada. Assim mesmo.
Ao completar 96 anos achou que era hora de sossegar e mudou-se para a casa da filha, e por lá ficou mais algum tempo, porém sem desmanchar sua casa. Pensava “e se lá de repente não me dou bem…”. Sempre lúcida e com sotaque, chamava sua filha de bella!
Nunca perdeu a lucidez. Nem seu gênio irracível.
Um dia sua filha querendo agradá-la sugere: Vamos trazer o quadro da montanha e colocá-lo no seu quarto assim… Bella, não conseguiu terminar a frase, e já veio a resposta: Ma filha io nem morri e você já está desmanchando tuta la mia casa?