DONA NENÊ

Morava numa vila, ali na periferia de São Paulo. Lá todos se conheciam pois era um lugar bem pequeno. Pessoas simples, boas, que se interessavam umas pelas outras.

Depois que Dona Nenê enviuvou, andava meio tristonha, e a conselho de sua filha, procurou um doutor.

Disse-lhe ele: – Andar Dona Nenê, a senhora precisa andar, pois isso seria muito bom. Para tudo. Colesterol, triglicérides, coração, circulação, pulmão, ossos e também para a cabeça.

Ela pensou e disse:   ̶ Mas doutor, onde moro é ladeira e a rua é de terra, se chove tem barro e se não chove é uma poeira lascada.

̶ Vá ao Parque  Ibirapuera, e procurando na internet deu-lhe o número dos 2 ônibus e o metrô que deveria pegar para lá chegar.

Na vila perguntaram-lhe o que o médico dissera,mas como ela não lembrava todos os benefícios que andar lhe fariam, disse aos vizinhos que precisava andar por conta da cabeça.

Cabeça? Reunião de vizinhos preocupadíssimos com a cabeça de Dona Nenê. Seu Zé, ajudante do açougueiro do mercadinho pensou e disse: – miolos, são os miolos com certeza. Já seu Bigode que trabalhava como ajudante de mecânico lá da esquina, sentenciou:-  ah! Isso é coisa de parafuso, deve ser um parafuso. Nalda que tinha ali mesmo seu salão de beleza com autoridade declarou: – isso é coisa da progressiva,  pois é muita química, veneno puro, e  sabe, enquanto o falecido vivia ela fazia sempre. Aquilo destrói o miolo. A mãe do Sr. Zé era benzedeira e fazia lá suas rezas, dizia que era ocultismo. Foram consultá-la e o diagnóstico não foi nada favorável: — coisa feita! Do demo. Isso não tem jeito.

Bem e assim o assunto da vila era a cabeça da Dona Nenê. A filha diziam outros, nariz em pé, granfina quer que a mãe morra para ficar com a casa!

5:30 da manhã, Dona Nenê saia de casa para tomar as conduções que a levavam ao Ibirapuera. Com sua sacolinha  um lanche para o almoço e a garrafa de plástico com água, que ela enchia lá no Parque mesmo. Andava, andava. Apesar de no começo achar aquilo uma chatice, foi se acostumando.

Na vila, os que saiam cedo, espiavam Dona Nenê sair com sua sacolinha. Era aquela falação. Nossa. Nossa!

Nova reunião de vizinhos:

̶  Antes, quando seu Severino vivia, era uma mulher de respeito. Séria. Muito direita mais agora segundo os homens, ela tinha arranjado um amante.

Bem com certeza concordaram todos, Dona Nenê, andava bem alegrinha. Nalda a cabeleireira interveio e disse: ̶ gente! Eu pessoalmente acredito que ela anda pedindo esmola! Sai daquele jeito de manhã, todo dia mar arrumada. Na missa do domingo, é um luxo só!

Bem, Sr. Pedro o mais idoso e também o primeiro morador da vila, que pouco falava, resolveu por si só descobrir o segredo de Dona Nenê. Uma vez que praticamente todas as pessoas da vila estavam com problemas, algumas curiosas, outras até com medo de Dona Nenê, o resto da vila à beira de um ataque de nervos, tal estresse   que estavam vivendo.

Ele perguntou, e ela respondeu: — já que todos estão preocupados, domingo próximo posso acabar com toda essa encrenca.

7:00 de domingo, quase toda vila se juntou à Dona Nenê. Queriam saber o que ela fazia todos os dias que a deixava tão diferente, tão mais feliz.

Ah! Surpresa!

Caminhava todos os dias no Parque Ibirapuera

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