Uma semana antes da abertura da Copa, o jogo seria um clássico, Brasil e Argentina. Fiquei com preguiça de levantar só de pensar quantos torcedores fanáticos teria de enfrentar na rua, pois trabalho na bilheteria oficial da Copa do Mundo de 2014. Eu particularmente, odeio futebol.
Ao final do dia, a fila ainda estava imensa, mas acompanhei tudo de perto.
Um homem e uma mulher começaram a discutir, pois esta queria passar para a fila daqueles que compram meia entrada (gestantes, pessoas com problemas físicos, idosos, crianças menores de dez anos,) alegando que estava grávida.
– Senhora, aonde pensa que vai? – Exclamou um senhor que estava na fila de meia entrada.
– Para a mesma fila em que o senhor está, por quê?
– Desculpe, mas qual é a sua necessidade especial?
– Não está vendo? Estou grávida.
– Ah não, mais uma malandra querendo se dar bem né? Vai me perdoar, mas não está grávida coisíssima nenhuma!
– Como assim?! – a mulher se irrita- Olha aqui a minha barriga!
-Pff, isso não é barriga de gravidez.
– Ah não? O que é que é então, senhor sabe tudo? E falando em falsidade, qual é a sua necessidade especial?
Percebi que a discussão estava ficando quente.
– A minha necessidade não te interessa, mas Isto ai se chama gordura, sabe, você deve ter ganhado uns quilinhos extras.
A mulher queria avançar, os seguranças não a deixaram. Os dois se retiraram da fila e continuaram a discussão.
-Olha aqui, se quiser, vou até minha casa e trago os exames, mas me diga qual é a sua necessidade?
– Quero vê-los!
Só trago se você me disser e me prová-la .
– Está bem! Tenho uma perna mecânica.
– Há há há. Conta outra, esta foi a minha desculpa da semana passada.
– AHÁ! Você admitiu que era mentira!
Já estava escurecendo, e nada da briga acabar.
Não admiti nada! Não tire palavras da minha boca!!
Mas você acabou de dizer “esta foi a minha desculpa da semana passada”
A minha voz não é assim! Mas não mude de assunto! Quero ver a sua “perna mecânica” – disse a senhora, com uma voz esnobe.
Está bem.
O senhor levanta a calça, e mostra sua perna, aparentemente normal.
Puxa vida, mas como o senhor é mentiroso ein?!
Mas, é real!
Quero ver os exames, então.
Está bem, mas só se me mostrar os seus.
Com prazer. Moro aqui do lado. Volto em cinco minutos.
Eu também.
Cinco minutos depois, os dois aparecem,segurando envelopes brancos. Eu acompanho tudo de perto.
Viu só meu senhor, eu os trouxe!
Viu só minha senhora, eu também trouxe!
Ok, vamos trocá-los.
Os dois trocam os exames, e depois de uns dez minutos de análise, o senhor puxa papo:
-Puxa vida, me desculpe, não é que era verdade mesmo.
-Não disse. Mas não te julgo, fiz a mesma coisa, me desculpe, não tinha ideia.
– Bem, vamos voltar para a fila então?
-Claro.
Os dois se viram, e constatam que o único ali sou eu .
-Com licença meu senhor -a mulher me diz
Sim? – respondo
Cadê todo mundo?
Ué, foram embora, os ingressos já acabaram.
TATIANA