CONTO INCOMPLETO

Qualquer disputa era com ele mesmo. Futebol, vôlei, basquete, tênis, era só ter uma partida e lá estava ele. Na sua cabeça, tudo na vida era uma luta. Quando uma menina dava bola ele não ligava, queria namorar a namorada do amigo, queria disputá-la. Quando conseguia, acabava a partida e o interesse.

 

Gostava de apostar corridas no transito, não deixava ninguém passar à sua frente, dar passagem nos cruzamentos nem pensar. Quando surgia uma vaga no estacionamento do Shopping não fazia por menos, jogava seu carro na vaga, sem se importar se havia alguém ao lado esperando. O que valia era ganhar.

 

Os amigos e as namoradas foram pouco a pouco se afastando, até que ele notou que estava ficando isolado. Sentiu então solidão, mas seu temperamento era mais forte que seus sentimentos, e ele dizia: são uns bolhas, uns perdedores, não estou nem ai.

 

Dizia sempre “competir é para os trouxas, o importante é vencer”. Quando comprava um produto e depois encontrava o mesmo em outro lugar por um preço menor fazia o maior escarcéu, brigava e fazia de tudo para devolvê-lo.

 

Um dia, sentiu-se mal e teve que ser internado às pressas numa UTI. Não podia se mexer. Todos os aparelhos estavam ligados nele. Pensava “Puxa, que vontade de comer pastel de feira soltando aquela fumacinha”. Outras vezes pensava: “que estou fazendo da minha vida? Não tenho amigos de verdade, nem namoradas, se eu sair dessa vou repensá-la” – Eu que estou escrevendo este conto, estou em dúvida: deixo o cara morrer na UTI, ou dou mais uma chance? Termine você que leu até aqui.

 

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