A Rua Giacomo Puccini

A rua era  pequena, apenas um quarteirão. Lá moravam: Dr. Luizinho, que não era doutor. Tinha na esquina sua farmácia, onde passava os dias atendendo e estudando para quem sabe um dia, vir a ser doutor de verdade.

— Seis casas, encostadas e interligadas pertenciam a mesma família. Todos irmãos. Todos “buona gente”. Nas casas dos irmãos vizinhos, era uma barafunda entre eles sempre gritando. Brigavam e faziam as pazes em alto som, rindo e chorando como bons italianos.

— Duas casas também pertenciam a duas famílias os “nonos”, os “zios” e os primos.

— Outras quatro ou cinco pertenciam a famílias independentes. Além disso havia alguns terrenos vazios. Uma dessas famílias, a do Dr. Argemiro, que não tendo filhos adotou um sobrinho que, por não ter conseguido entrar na faculdade, era obrigado a usar  um burrico pendurado no pescoço. Ele adorava o penduricalho, não considerava um castigo.

— Seu Vassorinha, sua mulher e os filhos,  eram divertidos, mas não repartiam com os vizinhos  as alegrias familiares.

— Havia uma família que por ser hoje diríamos  (gourmands ou gourmets) eram bem gordos. Eram os únicos estrangeiros  (para os vizinhos) uma vez que todos os outros eram “oriundi”! Eram Sr. Fritz Gordo, Dona Frida Gorda e Lu Gorda! Alemães, claro.

Bem, todos vizinhos se conheciam, mas era apenas  “bom giorno” … “boa noite”. E não passava disso. Um ciau e no máximo um sorriso. Não tinham convivência, viviam isolados cada um no seu mundinho.

Mas…Numa certa manhã apareceu na rua um cachorro vira lata até a alma, e a alma de um vira lata é o máximo. Nunca exige nada apenas quer amar e ser amado! Estava bem acabado. Machucado, sujo e cheio de pulgas. Porém era de uma simpatia contagiante, que acabou por conquistar  toda a vizinhança.

Como todos queriam adotar o cão, acabaram por conversar e resolveram fazer uma reunião para decidir o que fazer com ele.

Como vamos chamá-lo?

Reuniões algumas noites para escolher o nome, que viria a ser TANTAN. E que TANTAN decidiria com quem ficar.  Tratado e recuperado, ele escolheu, ser de todos uma vez que andava pelo quarteirão acima e abaixo durante toda noite. Durante o dia dormia embaixo da árvore numa sombrinha gostosa.

– E o que fez TANTAN?

                Dr. Luizinho ficou praticamente o médico de toda a italianada até dos alemães. TANTAN também era seu cliente.

Naquele tempo não havia ladrões, apenas larápios que entravam nas casas para roubar uma galinha ou alguma peça de roupa dos varais.

Mas, na Rua Giacomo Puccini jamais houve um roubo, pois todos os malandros sabiam da ferocidade de TANTAN, o guarda noturno.

Ele era muito engraçado pois tinha lá suas  preferências. Gostava muito de braciolla, mas não comia carne moída. ( Carne moída, devia pensar ele, nem morto). Arroz e feijão algumas vezes.  Gostava é de melancia, vai saber.

Agora, sábado, depois da chegada do TANTAN, a vizinhança se reunia. Era dia de churrasco. Ele era o primeiro a chegar, parece que sabia que era sábado. Amanhecia  na porta do Sr. Fritz Gordo e lá ficava.  Aprendeu até a tomar cerveja. Antigamente cachorro não comia ração, mas sim o que as pessoas da casa comiam

Só ia lá aos sábados, porque penso que não gostava de comida alemã.

Envelheceram juntos, TANTAN e os  amigos da rua. Mas amizade a alegria e o amor que ele trouxe jamais serão esquecidos pelos que  foram premiados com a oportunidade de com ele conviver.  Aquela dinâmica diferente, daquela  rua tão especial:

A Rua Giacomo Puccini.

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