A GALINHA E O SAPATO

Por Sandra

 

Um dia nossa galinha branca apaixonou-se por meu sapato dourado de festa. Ela passava o dia todo ali, empoleirada dentro da sapateira, como que chocando os ovos de ouro.

 

Um certo dia resolvi fazer uma limpeza e joguei fora alguns sapatos velhos. O dourado foi junto. Só percebi a besteira que havia feito depois de ver a coitada da galinha branca correndo em volta da casa, cacarejando que nem uma louca. Tarde demais, já devia estar no lixão.

 

Esse amor improvável era realmente verdadeiro. Essa galinha faltou morrer: não comia, não bebia, não botava. Entrou no poleiro do quintal e lá ficou.

 

Todos na fazenda se condoeram. Quem nunca havia sofrido por amor?

Até no lixão os peões foram tentar encontrar o sapato. Mas nada.

 

Me senti muito culpada. Fui até a cidade e comprei outro sapato dourado. Ajeitei ao seu lado no poleiro. Ela saiu correndo ofendida, e só entrou quando os tirei de lá.

 

Todo dia íamos checar, e ela estava sempre lá, empoleirada, imóvel, como que resguardando o luto. Lhe demos o apelido de “viuvinha”.

 

Passaram-se dias e uma bela manhã, a galinha viúva não amanheceu no poleiro.

 

A notícia se espalhou, ficaram todos preocupados, onde estaria a viuvinha? Morreu? Como? Coitadinha… procuramos pela fazenda toda e nada…

 

Os dias passaram e, na lida diária, acabamos nos esquecendo dela.

 

Mas a vida é cheia de surpresas e numa bela manhã, quando um dos peões abre o seu armário, vê dois olhinhos muito brilhantes lá no fundão. Retirando toda a tralha vê, com alegria, a viuvinha toda feliz aboletada ao lado de suas velhas botas de couro.

Ele, o peão, sábio das coisas do amor sussurra:

-“É, guria… um amor só se esquece mesmo com outro…

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *