Arquivos diários: 5 de outubro de 2015

DONA NENÊ

Morava numa vila, ali na periferia de São Paulo. Lá todos se conheciam pois era um lugar bem pequeno. Pessoas simples, boas, que se interessavam umas pelas outras.

Depois que Dona Nenê enviuvou, andava meio tristonha, e a conselho de sua filha, procurou um doutor.

Disse-lhe ele: – Andar Dona Nenê, a senhora precisa andar, pois isso seria muito bom. Para tudo. Colesterol, triglicérides, coração, circulação, pulmão, ossos e também para a cabeça.

Ela pensou e disse:   ̶ Mas doutor, onde moro é ladeira e a rua é de terra, se chove tem barro e se não chove é uma poeira lascada.

̶ Vá ao Parque  Ibirapuera, e procurando na internet deu-lhe o número dos 2 ônibus e o metrô que deveria pegar para lá chegar.

Na vila perguntaram-lhe o que o médico dissera,mas como ela não lembrava todos os benefícios que andar lhe fariam, disse aos vizinhos que precisava andar por conta da cabeça.

Cabeça? Reunião de vizinhos preocupadíssimos com a cabeça de Dona Nenê. Seu Zé, ajudante do açougueiro do mercadinho pensou e disse: – miolos, são os miolos com certeza. Já seu Bigode que trabalhava como ajudante de mecânico lá da esquina, sentenciou:-  ah! Isso é coisa de parafuso, deve ser um parafuso. Nalda que tinha ali mesmo seu salão de beleza com autoridade declarou: – isso é coisa da progressiva,  pois é muita química, veneno puro, e  sabe, enquanto o falecido vivia ela fazia sempre. Aquilo destrói o miolo. A mãe do Sr. Zé era benzedeira e fazia lá suas rezas, dizia que era ocultismo. Foram consultá-la e o diagnóstico não foi nada favorável: — coisa feita! Do demo. Isso não tem jeito.

Bem e assim o assunto da vila era a cabeça da Dona Nenê. A filha diziam outros, nariz em pé, granfina quer que a mãe morra para ficar com a casa!

5:30 da manhã, Dona Nenê saia de casa para tomar as conduções que a levavam ao Ibirapuera. Com sua sacolinha  um lanche para o almoço e a garrafa de plástico com água, que ela enchia lá no Parque mesmo. Andava, andava. Apesar de no começo achar aquilo uma chatice, foi se acostumando.

Na vila, os que saiam cedo, espiavam Dona Nenê sair com sua sacolinha. Era aquela falação. Nossa. Nossa!

Nova reunião de vizinhos:

̶  Antes, quando seu Severino vivia, era uma mulher de respeito. Séria. Muito direita mais agora segundo os homens, ela tinha arranjado um amante.

Bem com certeza concordaram todos, Dona Nenê, andava bem alegrinha. Nalda a cabeleireira interveio e disse: ̶ gente! Eu pessoalmente acredito que ela anda pedindo esmola! Sai daquele jeito de manhã, todo dia mar arrumada. Na missa do domingo, é um luxo só!

Bem, Sr. Pedro o mais idoso e também o primeiro morador da vila, que pouco falava, resolveu por si só descobrir o segredo de Dona Nenê. Uma vez que praticamente todas as pessoas da vila estavam com problemas, algumas curiosas, outras até com medo de Dona Nenê, o resto da vila à beira de um ataque de nervos, tal estresse   que estavam vivendo.

Ele perguntou, e ela respondeu: — já que todos estão preocupados, domingo próximo posso acabar com toda essa encrenca.

7:00 de domingo, quase toda vila se juntou à Dona Nenê. Queriam saber o que ela fazia todos os dias que a deixava tão diferente, tão mais feliz.

Ah! Surpresa!

Caminhava todos os dias no Parque Ibirapuera

DOR DE BARRIGA

Quem  nunca teve uma dor de barriga levante a mão. Ela é manhosa, traiçoeira, aparece quando quer, sem compromisso, sem aviso, sem cerimônia.

Como aquele apaixonado que dando o anel para sua amada, no pedido de casamento, saiu em disparada. A noiva ficou paralisada,   sem saber o que estava acontecendo.

Será que ele desistiu? Só quando ele voltou, com a cara de alivio, foi que ela entendeu.

E o caso do alpinista que  estava subindo a montanha de neve, pela cadeirinha pendurado num fio quando sem avisar, ela apareceu. Ele sentiu que não daria tempo de chegar ao fim da linha. Pronto resolveu lá mesmo. Azar da  neve.

Na entrevista para emprego, ela notou que estava agradando, quando de repente falou:  ̶ vou dar uma saidinha e já volto. Conclusão perdeu o emprego.

Um grupo de jovens vinham passando por uma avenida movimentada, fazendo aquela algazarra que só os jovens sabem fazer, quando um deles pediu: — Pára já o carro estou necessitando. Os amigos percebendo a situação,começaram a zoar.  ̶  Deixa de manha. Seja homem. Segura mais um pouco. E ele dizia, pára, pára, pediu com tanta aflição que os amigos resolveram parar. Ele correu até uma palmeirinha no canteiro central da avenida e foi ali mesmo. Os amigos saíram do carro e começaram a parar os outros carros que passavam, e mostravam a cena, com grandes risadas, e arruaças.

O marido tinha a mania de ficar lendo no banheiro, de repente a mulher sentiu aquela pontada característica na barriga, bateu na porta do banheiro, mas sentindo que o marido demorava para abrir a porta, viu um saco plástico ali de jeito, e pensou vai ser aqui mesmo. E foi.

Quando ela passou na catraca da portaria,no prédio em que trabalhava, ela sentiu aquele aviso fatal. Pensou: — ainda bem que só tem 3 pessoas na fila do elevador. Apertou o 20. Uma apertou o 6 a outra o 13 e o último o 14. A dor estava apertando quando a moça do 6 desceu. A do 13 quando foi descer ainda fez charminho para o rapaz do 14. Segurou um pouco a porta e sorriu. No 14 o rapaz desceu. Ela pensou ainda bem, não tem mais ninguém. Engano. Tinha uma firma que ocupava três andares o 15, 16 e o 17. No quinze entraram mais duas, uma desceu no 16 e a outra no 17. Esta última chegou a perguntar se ela estava se sentido bem. Quando finalmente chegou ao 20 deu de cara com a sala da diretoria aberta. Pensou: — vai ser aqui mesmo.

Dor de barriga é ruim, mas é bom. Serve para limpar os intestinos, como diziam os antigos, e depois que passa, dá um alívio…